Alan e o pé de Graviola

Nos anos sessenta os pais de Alan se mudaram para uma casa no subúrbio ainda pouco habitado, era uma casa grande, com enormes varandas. O quintal também grande na parte de trás e dava para um terreno baldio. O pai de Alan era uma pessoa muita severa, assim como sua mãe também. Alan era o filho mais velho dos três filhos do casal. Certo dia o pai de Alan trouxe para casa uma muda de uma árvore frutífera chamada de Graviola. Em vista de todos da família, o pai de Alan plantou a muda rente a cerca do quintal dos fundos da casa. Alan tinha então sete anos neste dia. O pai de Alan não queria que ninguém se aproximasse daquela árvore que ele cuidava com muita seriedade.

 

Um ano e meio depois a árvore já estava enorme e com frutas maduras. Certo dia Alan subiu na árvore para tirar uma graviola pois já estava bem madura. Era um dia de domingo e seu pai estava em casa. Alan levou a graviola madura para o seu pai que estava sentado na cozinha a conversar com a sua mãe. Ao mostrar a graviola ao pai todo contente, este ficou furioso, tirou o cinto e bateu em Alan veementemente, a ponto de machucá-lo bastante, pois a fivela havia atingido um de seus testículos causando uma lesão grave. Depois da surra Alan precisou de cuidados médicos por conta das lesões e escoriações. Alan não entendeu o porquê daquela atitude, pois a fruta já estava bem madura e ele apenas quis agradar o pai levando a fruta para ele.

 

O pai de Alan tinha verdadeira adoração por aquela árvore, todas as vezes que tirava uma graviola madura, chamava todos os filhos para comê-la junto com ele. Alan era o único que se recusava a comer daquela fruta, passou a ter verdadeira repulsa por aquelas frutas, e não chegava perto da árvore. Aquela surra ficou gravada em sua memória e ele passou a odiar o pé de graviola, e também ficou muito sentido com seu pai por conta daquela surra que o fez ficar internado no hospital por dois dias.

 

No dia em que Alan completou nove anos, acordou cedo e foi para cozinha para encontrar sua mãe, mas ela não estava na cozinha, estava na frente da casa, pois o marido estava saindo para o trabalho e ela estava a conversar com ele no portão da frente.

 

Alan não sabia e resolveu procurar a mãe no quintal. Chegando lá viu quatro graviolas no chão e dois meninos em cima do pé tentando tirar mais uma. Alan gritou e correu em direção ao pé de graviola. Os meninos se assustaram e desceram as pressas do pé de graviola, deixando para trás as que já estavam no chão. Correram por dentro do matagal e sumiram. Alan desesperado começou a recolher as quatro graviolas que já estavam no chão. Enquanto fazia isso sua mãe apareceu na porta da cozinha e o viu apanhando as graviolas do chão. Partiu em direção a ele já com um chinelo na mão e gritando o seu nome. Alan tentou explicar que não havia sido ele quem derrubou as graviolas, e sim os meninos que já haviam corrido por dentro do mato. A mãe de Alan não lhe deu ouvidos, furiosa, dê-lhe uma surra com o seu chinelo, enquanto Alan, mesmo aos prantos, tentava dizer o que havia ocorrido.

 

Alan ficou de castigo por todo o dia no seu quarto sentado e chorando. Quando seu pai chegou no fim da tarde, a mãe dele contou a versão dela ao pai dele. Este entrou no quarto furioso já com o cinto na mão. Alan mais uma vez tentou argumentar contando a verdade enquanto o pai desferia-lhe açoites com o cinturão por todo o seu corpo.

 

Em certo momento Alan parou de chorar e ficou em silêncio, de pé com os dentes trincados, enquanto seu pai continuava com os açoites. Quando ele cansou, sentou na cama para respirar. Alan mesmo estando muito machucado, calmamente disse-lhe a verdade, e disse mais. – “Eu falei a verdade, vocês não acreditaram em mim. Pois agora vou falar outra verdade. Amanhã quando o senhor acordar, aquele pé de graviola vai estar no chão completamente, pois eu vou derrubá-lo com as minhas próprias mãos. O senhor e a senhora vão ver que agora também estou falando a verdade” – Disse ele calmamente e sem mais chorar.

 

Quando os pais de Alan acordaram no dia seguinte o pé de graviola estava no chão completamente destruído, inclusive as graviolas que ainda estavam verdes, também estavam destruídas, esmagadas. Ao ver aquela cena, correram para o quarto de Alan e não mais o encontraram. Alan havia sumido. Esperaram o dia todo e nada. No dia seguinte, e nada. Começaram então a procurá-lo, pelo bairro, depois em hospitais, delegacias e por último nos necrotérios da cidade. Não foi encontrado em lugar algum. Até colocaram foto dele nos jornais como desaparecido, mas nada de notícias dele. Três dias depois o pai de Alan foi até a casa de sua única irmã que não a via há muito tempo. Pois achava que Alan estaria lá escondido. Essa irmã morava num bairro próximo, mas chegando lá soube que a mesma não morava mais ali, que havia mudado para outro estado. Foi o que os vizinhos informaram.

 

O tempo se passou, mas Alan não retornou. O pai de Alan morreu seis anos depois de infarto. Outra irmã de Alan também morreu de complicações pulmonares dois anos depois do pai. Quando completou exatos trinta anos que Alan havia sumido, sua mãe que já estava velhinha, e outro irmão estavam na varanda da casa, pois o irmão de Alan estava dando-lhe sua medicação. Um carro parou a frente da casa. Um oficial da marinha uniformizado desceu do carro junto com uma mulher muito elegante e mais dois adolescentes. Era Alan e sua família. Do lado de dentro, quem estava na varanda podia ver quem estivesse na frente do portão. Alan parou bem a frente do portão, reuniu sua família e ficou a olhar para os que estavam na varanda, sua mãe e seu irmão. O irmão foi atendê-lo. Alan o abraçou, apresentou sua família e entrou para ver a sua mãe, que estava numa cadeira de rodas na varanda.

 

Alan apresentou sua família a sua mãe, e perguntou pelos demais da família. Então soube que seu pai e sua irmã mais nova já haviam falecido anos atrás. Alan sentou-se, conversou bastante com sua mãe e seu irmão, mas sem tocar no assunto que motivou a sua partida. Depois levantou, entrou na casa para revê-la, foi até o quintal e viu junto à cerca dois pés de graviola. Seu irmão o acompanhava conduzindo a sua mãe na cadeira de rodas. Alan calmamente chamou seu filho que já tinha 17 anos, era um rapaz forte, de porte atlético. Alan disse ao filho; - “Filho, lembra da história que lhe contei sobre um certo pé de graviola?” – “Sim pai, lembro sim.” – Disse o filho. – Alan disse: - “Deve ser um daqueles dois ali, ou então descendentes dele.” – O rapaz então disse: - “Pai, eu quero fazer uma coisa por você?” – Alan olhou para o rapaz, não disse nada, apenas olhou para ele. O rapaz foi até onde estava o carro e voltou com uma espada, olhou para o pai. Alan não disse nada novamente. O rapaz foi até onde estavam os pés de graviola e os derrubou violentamente com sua espada. Nada sobrou deles, nem das graviolas ainda verdes. Enquanto os demais assistiam perplexos, exceto Alan, sua esposa e sua filha. Quando terminou, o rapaz foi até onde estava o seu pai e ouviu o pai dizer: - “Obrigado filho.” –

 

Charles Silva

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