Amélia

As idas ao Rossio 
mais pareciam os longos dias
quando saíamos de mão dada
descendo estas avenidas 
e apanhávamos o comboio

Haviam três horários 
mas que bela excursão esta
mas que companhia esta 
quando vens e te sentas aí
esgueiras-te sobre a janela 
tiras o prazer da viagem 
observas o Tejo

Como eram belas as tardes
a cada passo dado 
a azáfama dos Cacilheiros 
chegavam ao Terreiro do Paço 
carregados de gente 
que eu desconhecia

Sentir os teus beijos
as tuas mãos 
pousarem sobre a minha 
percorríamos as ruas deslumbradas
de Santa Justa ao convento 
e ao Chiado também 
umas vezes teatro, outras ópera
as economias eram poucas

Nunca uma extravagância fez mal
para bem do meu contentamento 
ao ver-te assim 
num sorriso rasgado 
num vestido de organza e carmesim 
feito com os melhores tecidos lá da fábrica
que ia guardando à socapa

Assim eras tu Amélia 
de olhos esverdeados 
e os cabelos compridos 
o rosto sereno 
de uma simplicidade 
que me completava

Pedro Taveira, Heterónimos - Poeta dos Tempos Modernos

 

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