Ao abandono

Ao abandono
 
Gravito no escuro,
enquanto procuro
no breu da vida
acender um fósforo
que ilumine as sombras
que transitam
pelos armários e cabides
em todos os lugares
fatalmente encurralados
onde afinal nunca
me acharás
ou eu provavelmente
até nunca me esconderei
 
Será que alguém
qual prodígio desta vida imensa
simule a tua voz, o mesmo sorriso
que me é tão lícito reconhecer
brincar depois no planar afogueado
que se acende intransitável nos sonhos
impregnando a luz mágica
soletrada entre palavras que hoje
me marcam como labaredas
 
Só o silêncio escondido
na ranhura do tempo
por fim
me chega para comemorar
o facto de que após tanto galopar
a vida
vivemos possuindo, possuídos
com as artérias cheias de perfume doce
meu corpo esvaziado 
cremado e deixado ali, monótono
teu retrato encostado na estante
sem mais sorrir...ao abandono
FC
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