Esculpindo a imaginação

Acende-se o dia depois da noite
 
que se perdeu num olhar perfumado
 
ferindo cada gomo  de luz contemplativo
 
bruxuleante algemando o tempo resignado
 
e tão apelativo
 
 
 
Soltam-se então outros murmúrios
 
escondidos no laboratório dos meus lamentos
 
enquanto sorvo deste silêncio o balido delicado
 
de um sorriso proliferando entre olhares de acasalamento
 
 
 
Ficou só minha tristeza
 
numa mísera agonia alucinada e obcessiva
 
Decretei às solidões da noite o exíguo momento
 
onde alimentamos com preces despidas
 
as saudades embebidas nas arestas do tempo
 
regurgitando precocemente ressarcidas
 
 
 
A harmonia do tempo em fuga
 
tatuou nos meus versos aquela rectangular
 
existência onde nos envolvemos
 
morosos, loucos, desalmados
 
incendiando a nudez dos silêncios
 
quase inúteis onde engavetamos
 
os desejos quânticos e sintáticos
 
num brutal silêncio ferozmente consumado
 
 
 
Na substância dos dias mascarados de prazer
 
hei-de habitar-te esfaimado
 
Cogitar um sonho onde os gestos
 
se confundam no écran do amor assim
 
satisfeito e velado
 
Profanar-te as sombras quando te
 
revelas,ávida, exaltante
 
ininterruptamente arrojada e radiante
 
 
 
Todas as ausências se tornaram como
 
desertos ressequidos
 
exílio de muitas saudades devorando
 
sílaba a sílaba minha solidão acocorada entre
 
destroços e lamentações assim alastrando
 
 
 
Na arena do tempo soltam-se os gladiadores
 
de todos os coniventes momentos estoicos
 
reconstruindo o anfiteatro de cada paixão
 
num etrusco heroísmo legendando a iconografia
 
de um combate esculpido e arquitctado
 
na semelhança da mais fiel e prodigiosa imaginação
 
FC
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