*O OURO*

A Theophilo Braga

Dizia o ouro á pedra;--Ente mesquinho!
Que profundo scismar sempre te préga
Á beira d'uma estrada, ou d'um caminho,
Pasmada, mas sem ver, eterna cega?!

Em vão o orvalho a ti te lava e rega!
Em ti não cresce nunca pão, nem vinho,
Dura e inutil--o lodo é teu visinho,
E o homem só, por te pisar, t'emprega!

Em ti só medra e cresce o cardo os lixos!
Tu serves só d'abrigo ao lodo e aos bixos,
E ensanguentas os pés descalços, nus!

Ó pedra! quanto a mim, sou a Riqueza!
--A cega disse, então, com singeleza:
--Eu, tambem, guardo no meu seio a Luz!

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