Velho do recinto

Existe um velho no recinto
tentando lembrar
como era bom festejar
antes de apertar o cinto.

E ele, roto e pobre,
observa de fora
a felicidade nobre
dos "ricos" jovens que fazem das horas nesta cidade
todas as suas horas de felicidade.

O velho triste
lamenta que o seu errabundo viver
apenas exista
no mundo que só ele quer fazer.

Ele está preocupado
com a juventude,
que vendo um velho roto e esfomeado
vê virtude e sorri de bom grado,
em vez de ver, preocupado, o seu futuro representado.

Ele desvia o olhar
para combater a emoção
e continua a caminhar com os olhos postos no chão.
São tantas as lembranças
que lhe fazem a memória ferver
e tão pouca esperança
que simplesmente deseja morrer.

Já longe da alegre confusão
desata a chorar.
E, então, deitado no chão
sente-se aconchegado
por um pousar de ar.

É um jovem, com um pão e um cobertor;
com um pouco de boa intenção e amor.
O velho cheio de desilusão e de dor,
chora ainda mais
por perceber que nem todos os jovens são iguais
e antes de adormecer,
cheio de esperança,
diz com a voz a tremer:
"Nunca percas a esperança
minha boa criança".

31/05/2014 ~ 19:34
Rui Correia

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Um poema profundo, cheio de sentimeto e snsibilidade! Gostei muito.

Um abraço

João Murty