Natureza

PRIMAVERA

  

 

 

Venho depois do inverno

colher rosas amarelas

e juntar todas

em um perfumado buquê

 

E propor à primavera

uma pausa na estação

para prolongá-la

na cadência dos dias

 

Época de transe floral

bela e transcendental

lindas orquídeas

colhidas sob a neblina

 

Tulipas / jasmins / margaridas

de tão acentuado vigor

que as tornam ousadas

feito um hábil sedutor

 

RAÍZES DE MIM

 

 

 

raízes de mim

vapor de essências

mas não me calha a indiferença

do estar no mundo negligentemente

diante do que sofra ou alegra

 

porções de mim

íntegro e desintegrado

com feitio de bárbaro relevo

destinando-me o clamor dos lírios

fluido exigente que sou

 

exalando um jorro incontinenti

como um cântaro derramado

que me assola irremediavelmente

-camurça de dor

ou urro de abrupto langor?

 

PRENÚNCIO

 

 

 

nos meandros do tempo

 

sobressaem-se nuvens lodosas

 

encobrindo nas montanhas e terras

 

uma trágica desolação

 

-consciente ou não

 

que irá implicar

 

no sacrifício de árvores, fauna, e água

 

para subtrair

 

do dia: o sustento

 

(que irá definhar)

 

da noite: o oráculo

 

(que nos caberá no julgamento final)

 

como uma presa rendida

 

irresoluta

 

Céu

O céu púrpuro tocou-me
A própria arte é a natureza
As nuvens de algodão-doce
Na minha boca adocicam
Meus trovões na revoada
Dianteiros ao meu caos
Um minuto de silêncio
Para a balbúrdia dos ventos...
Cantarolando o bardo se ouve
Batendo as asas joviais
Voe como pena e sem pena,
Seja livre!
Anoitece as várzeas do meu
Vale, e lá os pingos brancos
Plantam o lindo céu.

POR DENTRO

 

 

 

ando

como se tivesse nas pegadas

halteres de fisiculturismo

e quando a chuva

inunda de asas

o êxodo dos insetos

sou o halo da existência

e seu contato com a estação

e

sem querer

me vejo através dos flocos

de voragem

que me desatam a névoa

dos olhos

como borboletas assépticas

soltas

na atmosfera

sem enigma de aragem

ou tolice de hera

 

CARACOL LUMINOSO

acolhe-me o luar de cobre
sobre este teto nobre
(desejado como o céu das noites
castanhas)
invadido pela ousadia da lua
ou de um caracol luminoso
no atol das contingências naturais
incandescencia de chama
orvalho laminar
que passeia em folhas sem guarida
-provisória estadia
sobre tenras superfícies-
ribeirão que irá findar-se na alva
(fio curvilíneo
de incompreendida ação -
águas que não se retém nas mãos

CARACOL LUMINOSO

acolhe-me o luar de cobre
sobre este teto nobre
(desejado como o céu das noites
castanhas)
invadido pela ousadia da lua
ou de um caracol luminoso
no atol das contingências naturais
incandescencia de chama
orvalho laminar
que passeia em folhas sem guarida
-provisória estadia
sobre tenras superfícies-
ribeirão que irá findar-se na alva
(fio curvilíneo
de incompreendida ação -
águas que não se retém nas mãos

Larva ou borboleta

Trilhamos sempre um caminho
Destinado ao belo ou ao feio
No trilho exaspero das flores
Ou então na ventania de verão

Larva ou borboleta do jardim
És dono da metamorfose
Mas ao trair a coragem,
Regressarás ao lado estupefato

Rastejarás nas entranhas do tempo
Ou baterás o voo eterno
Para uma manhã de garoa inefável?
Não se enclausure no casulo 

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