Surrealista

Sempre-nunca

No despertar da lótus,
teu reflexo no espelho,
sublinhando ancestrais demandas,
e passivos comunitários semblantes
 
Ação e reação, carma
frutificando intenções,
más, boas e neutras
 
Shiva, libertarás
Darei-lhe vontade própria
Flutuará, então, de volta para casa
 
Talvez, sempre-nunca
nunca, talvez, sempre
E nestes cânticos, emerso
 
Futuro-passado,

Inefável

Inefável, a verdade é que queria estar nu
Inefável, poder supremo megalomaníaco
Inefável, regozijo-me nas veredas da vergonha alheia
Inefável, joelhos que não aguentam tantas súplicas...
 
 
Inefável, poderia, quem sabe, estar no mar?
Inefável, som inquebrantável dos desejos!
Inefável, tire-me da ignorância do tudo-sei
Inefável, nas grutas profundas do centro do mundo
 
Inefável, inefável, inefável!
 
 

Dukkha

Perturbação,
                 irritação,
                            depressão,
 
Preocupação,
                   desespero,
                                 medo,
                                        temor,
                                                angústia,
                                                            ansiedade,
 
Vulnerabilidade,
                        ferimento,

Rumo a Atziluth

E serão aquelas escadas
que me levarão a Atziluth
Sob o coro dos Querubins e Serafins
 
Foram aquelas escadas,
onde superei o abismo de minha existência
Quão espantoso é este lugar!
 
Betel, a porta dos céus
Voltei para a casa
Deixando o exílio e as ilusões desta morada
 
Quão espantoso é este lugar!
Terra azeitada de ternura e benevolência
Soube, então, o Bem

Último ato

Colha o dia, dizia Horácio
A sua vontade, concentre
Ressignificando o elo com sua morte
Podes, sem remorsos, tristeza ou preocupação?
 
Esvaziando, sem se inquietar com a hora de passagem
 
Diva, açoite suas expectativas licorosas
Invente! Como se tivesse todo o tempo do mundo
E descobrirá que não há todo tempo do mundo!
 
Module seus atos como sua última batalha na terra
 

De incertitudine et vanitate scientiarum

Sicofantas do púlpito.
Sofistas do escárnio.
De joelho, beijam vossa face.
 
Na futilidade das coisas,
esculpem vãs acusações.
Trismegestiando elucubrações.
 
Oras, qual o preço da verdade?
Xenofantiando a imensidão
de meia verdades.
 
Não há moedas, ouro ou preço,
a se pagar pela verdade.
Não há suplícios a eterna-mentira.
 
Não há caminho maior que a verdade.

Logos

Nem Parmênides;
nem Heráclito!
Tão pouco Tales, 
Anaximandro, Anaxímenes...
 
Sabes, afinal, teu logos?
Logos que está,
Mas não está?
 
Logos, antítese de "palavra";
É o que precisas buscar!
De nada ou tudo, adianta.
 
Não percebes?
Logos aqui está.
Trilha-lo-ia um caminho
 
 
Da escura caverna se libertarás...
 

Adsumus

Neste mundo, o coração é um covil de assassinos,
antro de pestilência,
doença contagiosa:
epidêmica!

Dirijo-me pelos vales de sombras
e conduzo meu coração a luz,
E conheço-a, mundo,
este coração é
um covil pestilento

Apregoado na derme micosada,
pelos vales de ignorância,
conduzirei este coração e
me concebeis com um ente em sua morada!

https://www.poesiasnonsense.com/2018/03/adsumus.html

Memórias

 
Permita, quem sabe, a memória
Com olhar que penetra e me afoita
Permita, quem sabe, se esconda
Debaixo de importunas sombras.
 
Que as palavras descartadas e arredias;
As sílabas aprumadas sobre o esteio fizeram
Despertar, sem preocupação, tal redondilha
Que a flavus; aos poucos lhe entrego
 
Posto que é chama, que arda.
Posto que é ferida, que doa.
Permita-me, Deus, que morra
 

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