Entrevistada do mês de Junho de 2013: Ártemis

Quem é a Ártemis?

Aqui esta uma pergunta difícil, a mesma que me faço desde que me conheço por gente e que espero que me venha a fazer sempre, até ao fim dos meus dias, porque para mim o conhecimento sobre nós mesmos é um processo continuado, que não conhece tempo nem espaço, e que apenas é moldado pela vida...

Não sei falar de mim...nem sobre mim...apenas aprendi a sentir-me, e sinto-me tanto e de uma forma tão profunda que embora admire as palavras, não lhes reconheço conteúdo o bastante para expressar tudo o que sou...o que aprendi a ser...e o que me ensinaram sobre mim, ao longo destes 37 anos de existência.

Esta é a minha idade, pelo menos a que a minha identificação como cidadã revela. Muito embora em mim viagem muitas outras durante um só dia...

Não tenho religião, mas acredito...acredito nas pessoas, na natureza e em sentimentos nobres como o amor e a amizade.
Já chorei de alegria...já me banhei na tristeza e sobrevivi, porque existe em mim uma força que não sei de onde vem, nem tão pouco onde vou com ela...
Sou portuguesa e orgulho-me de o ser...não pelo presente, mas pelo passado deste pais e por tudo o que sei que algures se esconde, na alma de cada um daqueles que como eu, amam o chão que os viu nascer.
Vivo em Peniche, terra humilde mas de uma beleza inarrável, beijada pelo mar quase em toda a sua extensão...para mim é o melhor lugar do mundo, me desculpem a falta de modéstia, mas é a minha casa...e é neste pedaço de terra que me começo e me encerro.
Quem é a Ártemis afinal? Bom...é o pseudónimo de uma mulher igual a muitas, porem diferente de todas...esta sou eu!

Que significado tem a Poesia na tua vida?

A voz dá fala ao corpo...a poesia dá voz à alma, é assim que a sei definir e fica muito por dizer, porque falar de poesia é falar de mim novamente. É através dela que vejo o mundo de uma forma filtrada...é nas suas palavras que bebo a essência de todas as coisas.
Quando escrevo sinto-me um ser melhor...aproximo-me de mim e de tudo o que acredito.

Que outras formas de arte te atraem?

Talvez existam artes sem nome, como existem artistas anónimos, e por isso atrai-me tudo o que venha dessa capacidade extraordinária que tem o ser humano, de criar e de se reinventar...
Todos nós somos um pouco artistas, uns mais efusivos, mais evidentes, outros mais modestos e pouco compreendidos, mas o certo é que já todos demos de nós o melhor ou o pior ao mundo...acrescenta- mo-lo de alguma forma. Não será isso também uma forma de arte? Eu acredito que sim...não é só arte apenas aquilo que se lê, que se toca, que se vê, que se escuta ou se fala...porque aqui só estão a ser usados cinco dos nossos sentidos e nós temos seis, eu pelo menos tenho...Arte para mim é aquilo que me faz sentir, que me comove ou me move.

Fala-nos dos teus projectos futuros...

Houve um tempo que corri com a vida...hoje limito-me a seguir-lhe os passos sem pressa, contrastando em muito com a minha falta de paciência...mas ao longo dos anos que me foram açoitando aprendi que o futuro é o daqui a pouco, o instante seguinte e ele não está na minha mão, embora ilusoriamente pense que o seguro...
O único projecto que tenho é manter-me viva...sã dentro da minha própria demência a qual faço questão de alimentar todos os dias. Se existe passaporte para um futuro mais longínquo o meu é este certamente.
O presente é mesmo tudo o que me resta...então humildemente abraço-o com toda a força da minha alma, porque se o amanhã não vier, saberei que morri no meu próprio abraço.

Deixa-nos uma sugestão para o site...

Eis chegada a oportunidade de agradecer a oportunidade que me foi dada de participar neste site, assim como toda a elegância e simpatia com que sempre aqui sou recebida.
Sou grata...eu e penso que todos que aqui fazem desfilar os seus sentimentos e sentires, vestindo palavras com os tecidos cozidos pelas mãos da alma.
Sentir-me-ia arrogante sugerir o que quer que fosse, visto este projecto estar entregue em tão boas mãos. Mas prometo que se alguma ideia mirabolante me inquietar o espírito, partilhá-la-ei, muito embora ache que deva deixar na voz da experiência essas falas, porque sou leiga na matéria.

Obras marcantes:

Não vou falar de obras, mas sim de alguns autores que me acompanham desde sempre e cuja escrita se lança de encontro à minha alma e por lá fica, criando autenticas bibliotecas de sentimentos.
Me desculpem os autores estrangeiros e seus admiradores, mas é na escrita portuguesa que recaem os meus encantos literários, porque não existe outra língua tão rica, tão maravilhosamente expressiva como o Português. Ninguém consegue falar de sentimentos, desflorá-los como aqueles que se expressam na velha língua de Camões.
E é mesmo de Camões que vos vou falar, não fosse ele o senhor de todas as escritas e de todos os sentires. Admiro-lhe a inteligência e a minúcia das suas descrições, ao lê-lo viajasse para longe, dentro dele e de nós mesmos.
E para cada senhor existe uma dama a acompanhá-lo, e heis que vem a seu lado um sentir no feminino, Florbela Espanca, quem mais poderia ser se não a senhora que mistura a tristeza com a alegria como ninguém mais. Ela deita-se na cama da dor e tapa-se com o sorriso da esperança, sabendo que foi predestinada a sofrer.
Estes para mim são os grandes...os maiores...existem outros como Pessoa, Bocage que me contagiam com a sua irreverente visão do mundo e por isso me prendem às suas escritas.
Tantos e tantos outros se lhes seguem...até aqueles sem nome que o tempo apagou-lhes a tinta do papel, sem misericórdia alguma.

Fonte de Inspiração:

O que inspira a minha escrita são as minhas vivências ou aquelas que tomo como minhas, vidas emprestadas...roubadas até.
O fato de estar viva e assim me sentir é inspiração o bastante para que a minha alma me dite as palavras que com humildade me escorrem pelas mãos.
A poesia, a minha poesia fala de gente que sente e orgulha-se de sentir, não se envergonha de esmiuçar os desejos quer da carne quer do espírito.
A primeira pessoa de todos os meus verbos...destina-se a adoptar qualquer um que se identificar com ela, porque o "eu" que existe em mim, estou certa existirá em muitos mais...

Filme preferido:

A sétima arte é-me um tema particularmente sensível, porque profissionalmente estou ligada a ela.
O cinema é uma velha paixão, que se veio a refinar ao longo dos anos, o que eu acho ser reflexo de algum amadurecimento cinematográfico e de alguma intimidade com as películas.
Eleger um só filme, é complicado tendo em conta o vasto leque a que sujeitei o meu gosto.
Mas filmes como: " A vida é bela",
" Favores em cadeia"
" Os condenados de Shawshank"
"Homens de honra"
entre muitos outros que já me fizeram chorar ou me simplesmente me resgataram sonoras gargalhas.

Canção preferida:

A musica é essencial na minha vida, porque me limpa o espírito e tal como a escrita me faz viajar no tempo e por lugares inimagináveis...
Alguns temas tornaram-se autenticas bandas sonoras da minha vida, eles marcaram momentos e sempre que os escuto desenterram em mim memórias de sentires, de cheiros, de sabores que ficaram armazenados nos confins do meu ser...
A escolha é difícil mas aqui ficam algumas das bandas sonoras da minha vida:
"Cavaleiro Andante" (Rui Veloso)
"She" Elvis Costello
"Purple rain" Prince
"Insatiable" Darren Hayes
entre tantas outras...

Jantar prefeito:

Na minha mesa gosto que se sentem pessoas que me aceitem com todas as minhas virtudes e com todos os meus defeitos. Gosto de partilhar refeições com gente genuína, que diz o que pensa e que trás verdade amarrada às palavras.
O lugar será sempre indiferente, quem faz o local são as pessoas e a forma como estas se dão aos outros.
Portanto o meu jantar perfeito...será aquele em que compartilho não só a refeição, o espaço, mas também me partilho e recebo o que me é dado a partilhar.
Gosto de uma mesa farta de boa disposição...gosto de sorrisos roubados quase entre em cada garfada.

Comentários

"(...) Já chorei de alegria...já me banhei na tristeza e sobrevivi, porque existe em mim uma força que não sei de onde vem, nem tão pouco onde vou com ela...
Sou portuguesa e orgulho-me de o ser...não pelo presente, mas pelo passado deste pais e por tudo o que sei que algures se esconde, na alma de cada um daqueles que como eu, amam o chão que os viu nascer.
(...)"

 

Confesso-te Poetisa que já li muitas entrevistas, mas essa tua foi uma das mais belas que já tive o prazer de absorver e senti-me profundamente emocionada pela sinceridade, pela sensibilidade, pelo teu forte senso de gratidão e fidelidade ao teu berço, as tuas raizes.

 

Tens uma alma rara e exemplar.

 

Muito,muito grata por nos permitir entrar um pouquinho dentro do teu coração e conhecer a joia que sois.

 

Com carinho abraço-te e minhas congratulações por esse merecido reconhecimento publico.

 

Ronilda,

foi tanto que depositaste em mim com as tuas palavras que me sinto verdadeiramente honrada, sou-te grata por me pintares com tanta verdade!

Obrigada por me leres...por me encontrares por entre os meus devaneios literários, que serão sempre reflexo da minha alma sejam eles de que conteúdo forem.

Sou orgulhosa do meu povo...da minha gente...e da terra que me viu nascer, pertenço-lhes e todos eles fazem o favor de me pertencer!Amarro o meu coração às minhas raizes para que a alma essa possa viajar ao sabor dos tempos, sabendo sempre que tem para onde voltar. É este chão que piso todos os dias que sempre me lembrará quem sou!

Agradeces-me por permitir que entres no meu coração e a mim resta-me agradecer-te por também tu teres aberto o teu para esta vagabunda das letras, que sou eu!

Abraço-te eu também com carinho, Ronilda...por tudo o que aqui me deste, mas principalmente por não te bastar apenas olhar-me...tu fizeste muito mais tu VISTE-ME, e é isso que me toca profundamente.

Ártemis

Com palavras nos entendemos, principalMente se vêm vestidas de emoções vivas.

E é com tAis emoções que vamos colocando a nossa assinatura nos atos e pensamentos que damos a conhecer àqueles que connosco convivem ou connosco se cruzam.

Lamentavelmente, tenho pena que vivamos num tempo que se faz urgente e que nos deixemos levar por essa urgência tão despropositada: As pessoas e os seus trabalhos passam por nós como cão em vinha vindimada, e na maioria das vezes não apreendemos a sua presença e a sua obra adequadamente.

Digo isto, sobretudo, por que pouco se lê  e comenta as obras e quase nada percebemos de quem está por trás da arte.

Aqui sinto uma pessoa carismática e com muita arte nas veias.

Parabéns e um grande abraç0o!

__Abilio

Tem muita razão no que diz, infelizmente o mundo vem-nos engolido de uma tal forma que o importante da vida vai-nos passando ao lado, por vezes lutamos contra esta realidade, mas é tão dificil gerir-nos que cedemos ao inevitável.

Eu tento com tudo o que tenho para me manter fiel a mim mesma e no que acredito. Cultivo valores para que estes me cultivem a mim...e sobretudo não me esqueço, porque no dia que isso acontecer e eu não souber mais de mim, a vida deixa de me encantar e de fazer sentido.

"Com palavras nós nos entendemos", tanta verdade tem esta sua afirmação, e estou completamente de acordo. As palavras sempre nos levaram a algum lado, nelas viajamos até ao outro e no outro.Abençoadas elas sejam...

Abilio, muito obrigada por ler-me e reconhecer-me entre as minhas linhas!

Um Abraço forte,

Ártemis

Lá no fundo está o «sentido» gosto pela escrita. Levitando a Alma como as suas palavras contagiam os seus leitores.

 

Um bem haja Artemis

Bem haja a si pelas palavras encorajadoras que aqui me deixa e que muito me honram!

Abraço

Ártemis