Alho-Porro

Acendo. Inalo. Expulso.
Repito.
Continuo envolto no mesmo meio físico
em que momentos antes me encontrava.
Parece-me, pelo menos...
Mas no entanto...
De repente...
As cores saltam bravias
da realidade
E entram-me, exageradamente vivas,
pela retina.
Brilhos, luzes, ondas electromagnéticas
das mais diferentes frequências
cintilam por todo o lado
como se estivesse dentro
de uma bola de espelhos.
As imagens rodam num frenezim disparatado
mesmo em frente dos meus olhos!
Mas ao invés de me sentir tonto,
sinto-me bem como em sonhos cor-de-rosa.
Sons agudos e amplificados
são disparados, também eles,
em todo o meu redor,
saltando de todos os lados,
atropelando-se uns aos outros
sem que eu tenha tempo de processar sequer
a cacofonia do ruído anterior,
perfurando-me os tímpanos
com estridentes sensações
que eu não conheço.
A relva em que me encontro deitado
parece agora mais viva,
mais macia,
mais real.
A saliva evaporou-se da minha boca
e deixou-me a balbuciar bocejos
por entre os lábios inertes.
Sinto o corpo numa moleza estúpida
mas tenho explosões
a acontecerem dentro de mim.
O vento sopra e congela o tempo.
Toda esta barafunda de sensações,
estas sinestesias hiperbolizadas,
parecem demorar horas.
No entanto são segundos,
que explodem com toda a violência
nos meus sentidos,
fazendo-me perder a percepção
do tempo.

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