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Estou no meu segundo meio, primeiro o mar, segundo a solidão da noite. Durante a noite posso pensar, sem raciocinar, viajar… hoje, contudo, estou preso, não consigo voar, está tudo muito pesado.  Por vezes fico leve demais, descolo com facilidade. Hoje sinto o contrário, estou pesado! Quando olho não vejo o horizonte, muito menos o seu limite.

Por vezes consigo ver o que está para lá do horizonte, galáxias distantes, gentes que não são gente, adormeço e sonho como um menino. Hoje... nada, apenas um ser pesado, limitado e com vontade de voltar a ver animais de noite como fazia com o meu amigo Carlos.

Eu e o Carlos começamos a gostar de animais selvagens muito cedo, de noite é possível observa-los, ele aproximava-se e sabia falar com eles, sabia alimenta-los. 

Era a noite que me encantava, poder ver de noite o que não se vê de dia, o que a maioria das pessoas nunca viu, texugos, lontras, ginetas com pele de leopardo, raposas, furões, saca-rabos, mochos, corujas, coelhos e lebres. Raras lebres de cor muito escura que só existem aqui, são maiores que as outras, mas estão em extinção.

Os animais noturnos são belos. Gostava de os ver agora, mas estou longe do Carlos, iria ter dificuldade em os encontrar. O Carlos via e percebia o que eu não conseguia descobrir, era intuitivo, dissolvia-se no campo como o sal se dilui na água doce quando os rios chegam ao mar. Vivia na orla da floresta, todos os dias ultrapassava a fronteira para os puder ver.

Sonhávamos acordados, vivíamos para descobrir animais e para ver um mundo desabitado. Acabei por ficar com as memórias, mas nunca mais passei a fronteira.

(22/03/2013)

MS

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