Ensaios na terra perto mar

A minha memória leva-me para junto do mar e o desafio da escrita impõe-se para transmitir o que sinto. É de manhã e o cheiro da areia molhada e a prata do sol refletido na água confere um brilho especial aos rostos das pessoas que por ali deambulam. É a pureza das manhãs solarengas. Vale a pena a paixão pela vida, viver como se nada mais importe do que a própria existência. Ser redundante na existência.Vale sempre a pena voltar aos sítios e absorver as diferenças. Viver sem objetivos marcados. Esta é a fórmula da felicidade enquanto fim último do ser humano. Mas existem outras coisas pelas quais vale a pena viver, preencher o vazio. Viver das coisas ilógicas, viver sem hora marcada. Tenho para mim que viver com hora marcada  não é de  todo a única forma de conseguir fazer aquilo que realmente importa. Ou seja, a marcação do tempo não é essencial para a humanidade, porque não é só com as ideias organizadas e com o tempo marcado que se podem fazer as coisas que realmente importam fazer. É bom planear, mas assim vive-se a vida aos poucos. E já agora, será que fazer aquilo que está culturalmente estabelecido será a maneira mais feliz de viver? Não me parece, parece-me bem mais coerente com a natureza humana o niilismo existencialista, o fazer reset a tudo em todos os momentos e depurar tudo o que não interessa. Isso não implica que não se aprenda com os erros, significa isso sim viver a sério, afinal é nas interacções do ser que reside a vida, no toque no canto dos lábios que se deu, nas palavras que não são ditas, mas que se adivinham, no amontoado de momentos vividos. Sempre que se está com alguém guarda-se o essencial desse momento e leva-se um pouco da vida do outro. E a vida vai-se escrevendo por ela própria, sem pressões e sem egos.

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