Ilha deserta.

Queria percorrer os sítios que já vi sem pensar, fazer o que já fiz… Não é preciso pensar para, ouvir, sentir, respirar… Gosto de viver por impulso, por instinto, procurando… Quando pensamos demais por vezes deixamos de ser quem somos.

Nunca vou conhecer-me totalmente, o pior é que gosto de ser assim, sinto-me atraído pelo desconhecido, por tudo o que é diferente e estranho! Sempre pensei nisso, é quase uma necessidade, tem a ver com a vontade.

Pouco importa, os doidos parecem ser felizes. O cérebro tem muitas sinapses… As possibilidades são infinitas. Será que existem mesmo doidos? Talvez prefira mesmo estar perdido.

Quando era muito pequeno caminhava na praia no meio da multidão para me perder… Mais tarde, com quinze ou dezasseis anos fiz o mesmo na floresta.

Num dia de agosto apanhei um susto! Andei uma tarde inteira perdido. Foi na floresta, entre a praia da tocha e a praia de mira, um corredor com vinte quilómetros de comprimento por dez de largura. Era tudo muito igual, quase como um deserto de pequenas dunas, acácias, pinheiros e camarinheiras.

Foi alguns anos antes do devastador incêndio, a floresta em certos locais era quase intransponível, por isso devo ter caminhado descrevendo círculos. Não levava água, apenas os calções de banho e umas sapatilhas, estava muito calor.

Entrei junto do parque de merendas da praia da tocha, senti-me tão atraído pela floresta que as primeiras horas a caminhar foram fascinantes. Vi grandes pica-paus verdes que denunciam a sua presença com o bater do bico nos pinheiros mansos, sardões verdes… Mas também vi pica-paus tricolores, vermelhos, brancos e pretos, mais pequenos, mas mais ágeis… Depois com o aproximar da noite percebi que estava perdido, tive medo e receio, estava com sede… Quando o sol desceu, caminhei uma hora para oeste e encontrei o mar.

Estava na praia do palheirão que se situa a cerca de dez quilómetros da praia da tocha.

Nas dunas, comi camarinhas, muitas, mesmo muitas, para matar a sede. Caminhei junto ao mar e cheguei ao café central às 2:00 da manhã. Os meus amigos do campismo ficaram surpreendidos – O que é que andaste a fazer? De onde vens? – Andei perdido numa ilha deserta.

MS

 

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