Mais um dia brilha

Mais um dia brilha,
Sem que traga nada.
Se há luz que trilha
Levo-a apagada,
Embrulhada num pedaço de vida,
Tão desperdiçada,
Que só tem lugar na algibeira esquecida
De umas calças, há muito, não usadas.

E eu, que tenho pouco tempo,
Visto essas calças,
Num contratempo de coisas falsas,
Uma última vez,
Para tentar ser.

Sinto a luz da sorte
abandonar-me por entre os dedos,
Para o esquecimento do medo da morte,
E numa reflexão de sensatez
Vejo que vivi para ganhar ter
E esqueci
Ter para ganhar.

Percebo que fui eu
Quem desperdiçou a minha vida
E nada me resta senão deixar
que seja esquecida.

Óscar Queiroz

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