_No dia dos Annos da Illustrissima, e Excellentissima Senhora D. Maria de Noronha, hoje Condeça de Valladares_.

Senhora, os pobres vestidos
Do vosso humilde Compadre,
Não o deixão ir aos Annos
Da sua Illustre Comadre;

O conhecido Colete
De bordadas guarnições,
Encartado ha longo tempo
Em Colete das Funções;

Sobre os seus cançados annos,
De humido Inverno Assaltado,
Cheio de invenciveis manchas
Me foi hoje apresentado;

Em vão bemfeitor miôlo
Lhe esfrega o quarto offendido;
A minha choroza Mana
Dá o cazo por perdido;

E se assim me apresentasse
A tão alta Companhia,
As suas nódoas serião
Manchas da seda, e do Dia;

Do Tempo a fôice raivoza
Não me dá só hum revéz;
Além de me fazer velho,
Faz-me tambem descortez;

Mas elle honrou hoje o Mundo;
Sois do Mundo ornato, e inveja;
Deo hoje mais huma paga
A' Illustre Caza de Angêja.

Sua mão, que aperfeiçoa
Altos dons da Natureza,
A huns lindos, modestos olhos
Vai augmentando a belleza;

Altêa a airoza figura
Sobre a das Graças moldada;
A huma alma a mais digna, e nobre
Dá a mais digna morada;

Justo Tempo, eu abençôo
O teu poder desigual;
E em honra de tantos bens,
Eu te perdoo o meu mal;

Cem vezes nas tuas azas
Nos mande este dia o Ceo;
As Virtudes o consagrem
Nos altares de Hymenêo.

E Vós, Illustre Senhora,
Perdoai Coletes rotos;
Valem mais, que inuteis sedas,
Puro incenso, puros votos;

Quiz mandallos em bons versos;
Suou em vão meu topete;
Fui achar a minha Muza
Como achei o meu Colete.

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