A noite de janeiro

A noite de janeiro

Gosto de ver a noite nos meses de janeiro.

Quando era pequeno caminhava nas florestas por cima das folhas, subia veredas para chegar mais alto, acreditava que subindo mais e mais, podia ver de perto as constelações e as estrelas cadentes.

Nessas veredas, os mochos galegos ocupavam os seus habituais poleiros para anunciarem o luar de janeiro. Quando a lua mostrava todo o seu esplendor, tudo parecia irreal.

É impossível descrever o que ela me fazia sentir, era uma luz que chegava num tom de prata, um branco púrpura… Permitia ver ao longe e sonhar de olhos abertos, amar a noite como de uma mulher se tratasse.

Era um luar límpido, um luar de frio, de lareiras acesas, de palavras e histórias antigas, de mantas grossas e sonhos intermináveis, de adegas e fadistas improváveis, de vinho novo e varas de fumeiro.

São longas as noites de janeiro... Uivam os cães, gritam os gatos, voam as corujas e juntam-se os corpos.

Quando olhamos a noite de janeiro percebemos a força da natureza.

É uma força selvagem e dominadora, invade-nos por dentro e envolve-nos por fora, suspende a obra dos homens para permitir o domínio do vento, dos astros e dos rios.

Miguel Sousa Santos

(24/01/2015)

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