N'UM CONVENTO

Como a agua em funda gruta
    Gotta a gotta filtra e cái,
    Sem saber quem isso escuta
    O que lá por dentro vai:

    Como ao longe incerta e baça
    N'uma igreja alveja a luz,
    Que da lampada esvoaça
    E a vidraça reproduz:

    Mal te vi, moira encantada!
    Mas á luz dos olhos teus
    Murcha a lampada sagrada
    D'um altar do nosso Deus.

    Mal te ouvi, mas as suaves
    Melodias, que te ouvi,
    São mais dôces que as das aves
    Da aldêa onde nasci!

    Quem teve, bella captiva,
    Coração de te deixar
    Aqui enterrada viva,
    Sem amor, sem luz, sem ar!

    Era cego e surdo, juro,
    O miseravel algoz
    Que não viu olhar tão puro,
    Não ouviu tão pura voz!

    Eu não tendo a faculdade
    D'arrazar esta prisão,
    Sacrifico a liberdade
    Por tão dôce escravidão!...

Coimbra.

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