O Mendigo

Pela rua vagueia o velho mendigo,
Arrastando-se pelo chão,
Com a pesada bagagem pelas costas,
Ao som do pio do corvo e da coruja,
Triste, de coração na mão,
Com as lágrimas a escorrer,
Pelo enrugado rosto.

Hoje morreu o seu bem mais precioso:
A sua dignidade!
Vai de rua em rua,
Sôfrego e cheio de vergonha,
Pedir uma simbólica fatia de pão,
Para lhe matar a fome,

Mas ninguém acredita na sua necessidade,
Pensam ser por não querer trabalhar,
E põem em causa a sua triste verdade,
Nem as roupas o denunciam,
Que aos poucos deixam há vista a sua nudez.

Os fidalgos olham-no com desdém,
Ignorando o seu valor e a sua dor,
Agarrando os tostões nas suas carteiras,
E as suas roupas nas beiras,
Para nem sequer lhe tocar,
Avarentos e compenetrados nas suas futilidades.

Ele continua a sua caminhada,
Descalço pelas pedras da calçada,
Amparando a velhice na bengala,
Com os bolsos vazios, mas com o coração cheio,
Humilde em vaidade, mas rico em bondade.

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