O Xico

 

O gato mia. Está na hora do jantar. 

Chove a cântaros do outro lado da janela suada, escorrida por gotas geladas.

Observo-o, em pleno contentamento, entre o som de migalhas saltitantes das dentadas sôfregas e crocantes. Pára e fita-me a alma. Aqueles olhos que eram verdes, agora amarelados, de retina esticada, assertiva, determinada e critica. De pêlo preto brilhante, entre uns poucos brancos pelo meio e de sino vermelho vibrante suspenso.

'- Seu inútil', digo eu, enquanto admiro aquela fofura de miar mimado e de rabo sempre borrado. 
Deita-se na sua caixa única e de tamanho perrrr-feito para os momentos de perna esticada e para a conchinha com o seu 'piu' saído do MacDonald's, de cores berrantes e fio provocante, com que se delicia nas horas de histerismo.
Encosta a cabeça no canto de cartão e olha para mim.'- Seu inútil', repito, 'só sabes ser fofinho.' Levanta a pata e lambe os tomates.

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