Ontem olhei pela janela

Ontem olhei pela janela
E, de passagem, vi a vida...
Que transeunte imagem bela:
Cheia de pressa, mas intensa;
Perdida na pertença
Da sua própria remessa apressada.

Agora, olho este pensamento
de ter olhado anteontem,
E, num turbilhão de sentir,
Percebo que sou o seu chão.
E ela,
Perdida na pertença
Da sua própria remessa apressada,
Segue assim,
Sem olhar para trás -
E marcando o meu escudo de carne e osso -
O tempo, que quando passa jaz.

A medida que chega o seu descanso,
Canso de a olhar e alcanço
A pressa de a ser...
Mas a sombra de mim,
Já velha e cansada de olhar,
Perde-se na pertença da sua remessa apressada
E escolhe cessar.

Olho, agora, de longe, toda a pressa que tive de ser
E a lentidão com que não fui;
Olho a certeza com que quis,
A alegria com que idealizei
E a preguiça com que não fiz e ignorei.

Olho, do lado de fora,
A incapacidade de quem está do lado de dentro,
E morto da vitalidade preocupada,
Continuo a olhar, tranquilo, a vida
Perdida na pertença
Da sua própria remessa apressada.

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Comentários

Uma forma de olhar e de ver, uma forma de sentir e expressar! Quando se olha pela janela da vida, assistimos e refletimos no desfllar do passado do presente e do futuro que transportam: momentos, vivências, sentimentos, sonhos e ilusões.

Um grande abraço, que 2015 seja o limiar das tuas reaizações

João Murty

Parabéns Rui!!! A vida passa apressada, às vezes não deixa marcas em nada.

Mas às vezes deixa a vida marcada.