OS AVÓS

OS AVÓS

Se há dias comemorativos repletos de significado, um deles é o Dia dos Avós, aqueles que são pais duas vezes e que são de uma importância vital na sociedade dos nossos dias.

Não foi por mero acaso que se escolheu o dia 26 de Julho de cada ano: celebram-se as festividades de São Joaquim e Santa Ana, Pais de Maria, Avós de Jesus Cristo.

Durante a minha longa existência conheci e conheço muitos avós. Da parte familiar conheci apenas a avó paterna, mulher austera, parcial, da qual só herdei o nome de Fernandes, como deixei claro num texto anterior.

Casado, conheci a avó da minha esposa, a avó Hermínia Nogueira, admirei-a e tenho muitas saudades dela. Libertou-se de muitas vicissitudes em que por vezes a vida é pródiga. E é madrasta a vida de muitos avós.

Ajudou a criar as duas netas maternas, principalmente a mais velha, a quem transmitiu conhecimentos humanistas, gastronómicos, sociais, religiosos, serviços domésticos. Vestia-a como uma princesinha, ensinava-a a relacionar-se com as pessoas, a rezar, e era muito boa conselheira: “olha que meias só nos pés e em mais lado nenhum”.

 Ajudou-nos a criar os nossos filhos, com uma imparcialidade invejável, louvável. Fazia o melhor pão de Aldeia de Joanes em tempos difíceis, quando esse bem essencial era racionado pelo Governo Português.

Os avós têm mais disponibilidade, mais tempo e uma certa compreensão pela vida que a experiência traz. São mais pacientes e tolerantes, aceitam as rebeldias e as teimosias sem deixar de exercer uma natural autoridade.

Há dias um avô conduzia dois netos para casa, enquanto confidenciavam cenas de beijinhos na Escola. O Avô chamou-os à atenção e o neto mais velho respondeu-lhe: “Tens razão,  Avô, estas conversas já não são para a tua idade.”

Recolhi alguns documentos escritos de alguns netos, de álbuns de recordações:

Mário Fernandes, no seu testemunho para o livro “Pater Familias” de Ezequiel Fernandes, recorda o seu avô paterno como alguém de “gigante carácter, tributário das realidades difíceis que enfrentou no extraordinário romance da sua vida. Na verdade, pressenti ainda muito novo que reinava nele a forte personalidade dos Homens que conheceram a pobreza, a guerra e o amor”.

Também a minha sobrinha, Vânia Fernandes, escreveu que “o meu avô, apesar da sua estatura, era um Homem forte e rijo, com as mãos calejadas de muitos anos de trabalho na terra (…) sempre que visitava os meus avós, ele oferecia-me uma rosa… Sentava-se a escrever versos e contava-nos histórias dos seus tempos de jovem”.

António Lobo Antunes recorda a sua avó Preciosa. Depois dos raides nocturnos pelas ruas e travessas do Bairro Alto, ela era a sua salvadora nas noite de abusos. Dava-lhe papas da Farinha Predilecta (“para a criança, para o doente e também para atleta, só a Farinha Predilecta”) e o futuro escritor era curado à base de farináceos preparados pela sua avó.

Também o meu amigo Prof. Miguel Santos, companheiro de doenças silenciosas, me remeteu este texto: 

”A minha avó coze a broa, vejo os seus olhos azuis, na velha cozinha a solidão acalma o tempo.

A pereira do quintal tem peras doces, como doce é o seu olhar, em cima da mesa uma velha tesoura e as minhas calças por acabar.

Vestida de preto a minha avó trás na lembrança os olhos azuis do meu avô.

Sonho com ela, com a velha cozinha e o seu rosto ainda está nas minhas mãos."

Felizes dos Avós que são âncoras, pilares, apoios e berços de tantos filhos, alguns com pais divorciados ainda nos seus regaços. Com sangue, suor e lágrimas e muitas privações para serem médicos, enfermeiros, educadores… Tantas profissões abraçam os avós para abraçar os netos.

Dia 26 de Julho será o DIA DOS AVÓS, que sirva para reforçar os laços entre avós e netos, lembrar, perdoar e dar as mãos…

 

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Julho/2018

 

 

 

 

 

 

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