*PALACIOS ANTIGOS*

A Anthero do Quental.

Bons castellos leaes nas rochas construidos,
Ás contorções do vento, á chuva ennegrecidos,
Que vamos admirar na angustia dos poentes;
Grandes sallas feudaes com tellas de parentes,
O que fazeis de pé, como entre os nevoeiros,
Os antigos heroes e as sombras dos guerreiros?!

Uma grande tristeza enorme vos habita!
No entanto a alma antiga ainda em vós palpita,
Evocando a emoção das chronicas guerreiras;
E mau grado o destroço, a herva, e as trepadeiras,
--Como um desejo bom nas almas devastadas--
Cresce, ao vento, uma flor no peito das sacadas!

A parasita hera avassalou os muros!
Aninha-se o bolor nos cantos mais escuros,
Tudo dorme na paz das cousas silenciosas;
E nos velhos jardins aonde não ha rosas,
--Só resistindo ainda aos seculos injustos--
Uma Venus de pedra espera entre os arbustos!

Paira em tudo o silencio e o lugubre abandono
Das cousas que já estão dormindo o grande somno,
Evocando ainda em nós os velhos cavalleiros,
--E ás lufadas do vento, os grandes reposteiros,
Entre as nossas visões das epocas sublimes,
Agitam-se ao luar vermelhos como crimes.

Mas no entanto o poeta entende aquellas dores,
E as mudas solidões, os largos corredôres,
As boas castellãs as gothicas janellas,
Abertas toda a noute a olhar para as estrellas;
Só elle sabe os ais e os gemidos das portas,
--E inveja ás vezes ser o pó das cousas mortas!

Género: