Peregrinar

PEREGRINAR…

Saio do Fundão integrado num grupo para a 46ª Peregrinação da Família Franciscana a Fátima, sob o lema, “FRANCISCO – Arauto do Grande Rei.”

É-nos entregue pelo responsável um guia informativo do Programa-Horário, dos Avisos, das Orações no início, na chegada e na partida, acompanhadas com Cânticos Franciscanos.

A primeira paragem da Peregrinação é no Sítio – Nazaré. Ali avistam-se paisagens de beleza ímpar, de Monumentos com História, de Museus, na data, fechados em homenagem à fundação da república, não muito longe um território de surfistas portugueses e estrangeiros, mundialmente conhecido.

Peregrino pelo W.C. público e uma senhora de bata e com o dedo em riste aponta-me o dedo do preço de uma mijadela. Até as necessidades fisiológicas de um simples cidadão são taxadas sem recibo.

Peregrino pela Rua Marginal da Praia da Nazaré e lembrei-me das referências do Prof. Miguel Sousa, sobre o Carlos de Freitas, “O Carlão”. Nascido em Angola, oriundo de uma família de agricultores afortunados de café. Sabia diversas línguas e tinha sido militar com o posto de major e piloto dos helicópteros M8. Por vicissitudes da vida abandonou a carreira militar e estabeleceu-se na Nazaré como um extraordinário artesão de cabedais. Transportava um saco vazio, enquanto muitos transporta-nos cheios de preocupações e de ambições.

Ainda há gentes na Nazaré que recordam o Carlão, pessoa simples e artesão de diversos objetos de cabedal.

Peregrino pelo Museu a Céu Aberto da Seca de Peixe, por quadros fotográficos identificando barcos, lanchas, e barcas salva-vidas. Em frente uma tenda “Pula-Pula”, onde um brasileiro coadjuvado por um português, pinta azulejos com os dedos. Ele pinta, anima os diversos mirones, conta umas anedotas e não para de pintar e vender. Nem os da banha da cobra nas feiras lhe ganham.

Segue-se a viagem de peregrino até Fátima, território onde “chegam de todos os lugares gentes que se reconhecem como num lugar de Epifânia. Chegam de todas as paragens, porque ali colhem experiências de encontros. Vestidos de todas as cores ali erguem a chama da Fé e ali levantam a brancura dos seus lenços que preenchem as suas mãos. Falam muitas línguas, mas entendem-se e estavam todos irmanados num renovado Pentecostes.”

Peregrino pelo recinto do Santuário e ouço uma homilia sem o mínimo de interesse, sem mensagem, sem sal. O tema do Evangelho é complexo, como são todos. Não é fácil falar de amor conjugal, quando não se vive a missão de marido e de pai.

Peregrino pela Casa do Escuteiro, espaço de formação, de reuniões, de apoio logístico escutista a nível nacional. Percorri-o com a amabilidade e a simpatia da Chefe Célia de Mangualde.

Neste peregrinar interrogo-me: quais as motivações de Nossa Senhora aparecer na localidade de Fátima de origem árabe, quando tinha ali á sua volta tantas locais de origem cristã? Já estaria a pensar nos diálogos inter-religiosos?

No final da Peregrinação, o organizador Higino da Serra Cruz de Aldeia de Joanes, realçou o sentido fraterno, amigo, de partilha e responsável por parte de todos os peregrinos.

Assim é bom peregrinar…

 

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Outubro/2018

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