Pingo ausente

Solto-me e um silencio quebra,
num arrepio de solidão,
que embate e perfura o coração.
São tantas as linhas quebradas, apagadas,
que já não conheço leme,
para reescrever, o sentido certo,
dum mapa há muito perdido.
Risco, deixo o rascunho,
reescrevo, e nada se cria,
apenas uma empatia, ligeira e superficial,
de que o amanhã será real.
Pouco a pouco, caio, num cair de não mais subir,
numa inconsciência, de sonhar presença,
e esvoaço, tomo o enlaço. toma a bandeira,
colhida na feira, onde tudo se mistura e apraz,
num mentira incapaz.
Perdido vou á fonte,
como quem chama por mim,
será vento, será vida, tudo mentira,
num verdade iludida, de que vem,
e nada surge, de que floresce e enfraquece,
uma morte viva, num desnudar em que cada palpite,
é uma antítese ao pleonasmo do ser,
que de ser, sou nada, apenas e somente,
um pingo ausente.

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