Silenciado

No princípio eras vazio

Nem tinhas oxigénio

Eras tipo Ricardo Rio

Disseminavas o tédio

 

Dei-te parte da atmosfera

Até te deixei criar porcos

Dei-te a rosa com pantera

Dei-te pensamentos tortos

 

A meio tornas-te peça

De fruta num teatro

Ofereci-te até o Leça

Onde nem sobrevive o rato

 

Ficaste frágil com alergias

Do pólen de rosmaninho

Mas o mel tu já comias

Na igreja ora o vinho

 

O teu meio destruíste

Em serras de mobília

Nem a guerra aboliste

Nem a seda da Sicília

 

Da mesquita diamantes

De sangue do teu óleo

E por mais que cantes

Agora só resta o ódio

 

Quando me plantas é mal

E podas-me com desprezo

És macaco tal e qual

Eu daqui não saio ileso

 

Da mentira partes ramos

Na terra onde te criei

Sozinhas não dançamos

Nem há feudos nem há rei

 

Estou podre na calçada

Diz-me o Senhor Altino

Não havia mais nada

A fazer com este fino

 

Bebi-o até morrer

Ao lado do jardim

Onde me viram crescer

Silenciado no fim

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