(2) SANTA CRISTINA – FORTE NA FÉ

SANTA CRISTINA – FORTE NA FÉ

O título está no painel de entrada da Unidade de Santa Cristina, na Casa de Saúde das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, em Condeixa-a-Nova.

O nome de Cristina já me tinha chamado a atenção, mas na tradição familiar e de religiosidade popular, por mais pesquisas que faça, não encontro no meu Concelho do Sabugal orago ou Capela em honra de Santa Cristina.

No Outono de 2017, entrei na Unidade de Santa Cristina, das Irmãs Hospitaleiras, a fim de curar as minhas feridas físicas e psicológicas.

Infelizmente, por motivos de saúde, tem sido um vai e vem, sempre que entrava ou saia desta Unidade passava obrigatoriamente pela Imagem de Santa Cristina e comecei a alimentar o meu interesse pela vida desta Mártir.

Perante dúvidas do registo de nascimento, os gregos optaram pelas suas origens em Tiro, os latinos em Bolsena (Toscânia em Itália). No século XIX decorreram estudos e investigações arqueológicas que dissiparam as dúvidas: era italiana.

Há diversos textos, em grego e em latim, que relatam o seu Martírio. Numa simples observação à sua imagem, estão bem visíveis as cordas, uma mó de moinho, setas e a palma de Mártir.

Adolescente, converteu-se ao Cristianismo, filha de um pai pagão do Império Romano, que nunca aceitou tal decisão. Para obrigá-la a mudar de opinião, sujeitou-a a diversas flagelações, determinou que a atassem a uma mó de um moinho e a lançassem a um lago. A mó ficou a flutuar e Cristina não morreu. Finalmente foi torturada e morta com flechas.

As perseguições aos cristãos nos primeiros anos do Cristianismo estão ainda bem vivas nos dias de hoje: em muitos países uma simples cruz, um terço, uma medalha, uma simbologia cristã, são crimes de prisão e pena de morte. É a Igreja que Sofre, é a Igreja do Silêncio e do Sofrimento.

A devoção a Santa Cristina é do terceiro século depois de Cristo. Palermo, cidade italiana, escolheu-a como sua Padroeira. Também o é dos nutricionistas, terapeutas e marinheiros.

O Culto em Portugal só se inicia no reinado de D. Manuel I. Os habitantes do Concelho de Condeixa-a-Nova adoptaram-na como Padroeira dos Moleiros, pela forte influência romana nas colinas das Sicó. É festejada com pompa e circunstância no dia 24 de Julho de cada ano, feriado municipal. A Igreja Matriz tem uma imagem de pedra lindíssima.

As Irmãs Hospitaleiras têm uma Unidade com o seu nome e uma belíssima imagem. Na coluna central, que suporta o edifício do refeitório, lá estão pendurados diversos corações com palavras tão familiares a Santa Cristina: Fé, Amor, Caridade, Empenho, Coragem, Justiça, Virtude, Cidadania, Rezar, Luz, Carinho, Respeito, Humildade, Família, Convívio, Solidariedade…

Na minha vida amorosa não encontrei nenhuma Cristina, por mero acaso não aconteceu, mas tenho encontrado muitas, principalmente agentes de saúde, que com Vocação, com Mãos Hospitaleiras, Afectuosas e Competentes têm aliviado as minhas dores físicas e psicológicas.

 

Em memória do meu amigo Carlos Freitas (Carlão) e dadas as virtudes de Santa Cristina - compaixão, solidariedade, caridade, humildade, esperança -, partilho este oportuno texto, de Miguel Santos, homenagem ao seu falecido amigo Carlos Freitas (Carlão):

 

“O meu amigo Carlos fechou os olhos no Domingo (03/06/2018).

 

Lutou até ao fim, no Sábado quando o fui visitar ao hospital, para me poupar disse - “Vai Miguel eu fico bem, estou em Paz”.

 

Conheci-o em Novembro durante um internamento no Hospital da Universidade de Coimbra. A Doença do Carlos era incurável, incomparavelmente mais grave do que a minha, mas quem me dava força era ele.

 

Sempre que o visitava para jogarmos xadrez, ou para o tirar do hospital à hora do almoço, todos os dias sorria e contava episódios da sua riquíssima vida.

 

O Carlos nasceu em Angola, no seio de uma família abastada de agricultores de café, a sua propriedade devia ter mais ou menos a área do Baixo Mondego!!!

 

Frequentou a escola com bastante aproveitamento, tinha uma vocação inata para as letras. Falava corretamente Inglês, Francês, Russo…

 

Com o desenrolar dos conflitos em Angola fez formação militar na Rússia, tornou-se piloto de helicópteros m8.

 

Depois de vários anos de guerra em Angola já não podia ver uma arma, fartou-se de guerra e deixou a sua carreira e o seu posto de Major.

 

Decidiu vir viver para a Nazaré onde se tornou um extraordinário artesão de artefactos de cabedal. Optou por viver uma vida simples, viver em paz.

 

Um dia quando estávamos internados e tomávamos café na entrada do Hospital disse-me:

 

- Miguel, a melhor maneira que tens de enfrentar a vida é arranjares um saco.

 

- Um saco?

 

- Sim, um saco!

 

- Repara… olha para as minhas costas, o que vês?

 

- Nada…

 

- Mas eu tenho um saco invisível atrás das costas! Todos os problemas que não consigo resolver mando-os lá para dentro. Depois com o passar do tempo e com muito cuidado pego numa pinça e resolvo um pequeno problema de cada vez, os que não tiverem solução ficam no saco invisível.

 

De imediato percebi o que o Carlos queria dizer! Pouco a pouco o saco vai ficando vazio…

 

O Carlos voltou a falar: enquanto vocês, ocidentais, carregam um saco muito pesado a vida inteira, nós, africanos, somos mais leves e quando chegamos ao fim da vida temos o saco vazio.

Por isso, Miguel, tudo o que não tiver solução manda para trás das costas, arranja um saco invisível meu irmão.

 

Até sempre meu irmão.”

 

Senhora, Santa Catarina eu te rogo, que com a tua resistência, me ajudes a reconstruir azenhas derrubadas, moinhos desventrados das nossas vidas. Que voltem a fazer farinha, amassada irá alimentar o forno das nossas vidas, com amanhãs mais risonhos e felizes.

No Ciclo do Pão estejas sempre presente na partilha da Fé, da Coragem e da Alegria.

É PRECISAR ACREDITAR, MINHA GENTE!

 

 

António Alves Fernandes

Condeixa, 23 de Julho/2018

 

 

 

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