CACHOEIRA

Sobre o frio dorso de pedra,
Qual da musa a pele lisa
Seu influxo quando medra
Tão veloz ele desliza,
E sua lampeira queda
Nas torrentes alguém frisa.

De colossal formosura
Ela exibe a cabeleira,
Um manto cuja ternura
É mágica e feiticeira!
Mais parece uma moldura
Da beleza derradeira.

Vem de longe, mui distante
Este sangue transparente,
Que correndo qual infante,
Rastejando qual serpente
Lança o voo delirante
E despenha decadente.

Tem o brilho dos cristais,
O frescor das ventanias;
Tem segredos imortais
Que nutrem as fantasias.
E as vozes das catedrais
Exalando as calmarias!

A seus pés brincam as fadas,
As risonhas divindades.
Em seus pés linfas nevadas
Que remoçam as idades,
Nas escuras madrugadas
Surgem muitas entidades.

O luar é derramado
Em sua cortina clara.
Em seu berço perolado
Agita-se a bela Iara,
Que contempla com agrado
A grandeza que sonhara!

Perfumam suas espumas,
Suas mádidas poeiras
O céu das matas em brumas,
Os ramos das laranjeiras,
E escrevem quais áureas plumas
A fala das cachoeiras.

Quem viver não quer ao menos
Dentre sua longa trança,
Ouvindo os sons amenos
Envolvido nessa dança,
Pilhando com desempenos
Os tesoiros que ela lança?

ALEXANDRE CAMPANHOLA - 04/04/2009

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