Conversa com feiticeiros – Parte 1

Conversa com feiticeiros – Parte 1

 

Como muita gente, eu tinha uma idéia ou impressão do que, ou como seria um feiticeiro. Essa idéia ou impressão foi por água abaixo no momento em que conheci um feiticeiro de verdade. Nada tem a ver com candomblé, macumba ou mesmo Harry Porter, sem falar daqueles que a TV mostra em filmes e etc. Resumindo, feiticeiros de verdade não têm nada a ver com qualquer conceito conhecido ou estabelecido. Seja lá qual for.

 

Feiticeiros são pessoas aparentemente simples, mas só aparentemente, em verdade são pessoas extremamente sofisticadas, detentoras de um conhecimento assustadoramente grande. Apesar de a maioria viver em cidades pequenas por opção, e isso é só uma questão de disfarce, pois não querem ser reconhecidos nem famosos. Vivem em anonimato quase que total. Dizia-me um deles que um feiticeiro não fica muito tempo em uma cidade. São como nômades e vivem uns poucos anos ou meses em cada lugar.

 

Estive em uma casa onde moravam cinco feiticeiros e duas feiticeiras. Fui levado lá por um amigo e com o consentimento deles. Assim que cheguei imediatamente notei que eu nunca tinha visto um feiticeiro real de perto. Bastou olhar nos olhos, é visível, notório, ao menos para mim foi.

 

A primeira impressão foi que naquela casa habitava uma família comum, lerdo engano. As mulheres feiticeiras são bem menos sociáveis que os homens. Uma delas, que se chamava Eneida me recebeu e me ofereceu uma cadeira para sentar, imediatamente perguntou por que eu estava ali e ainda disse que ninguém de fora do grupo deles é bem vindo naquela casa. Nada delicada. Mas disse também que sabia que eu viria a aquela casa, pois o fato de elas e eles usarem a magia possibilitava ou antecipava certos acontecimentos em suas vidas.

 

- Tem muita coragem de vir aqui moço. – Primeira coisa que o feiticeiro chefe do grupo me disse. – Mas sei por que você está aqui. Isso já foi concordado antes em outra esfera. Todos aqui já o esperavam. A sua linhagem tem muito da nossa, porém, estamos em lados opostos. Nós não nos preocupamos nem nos incomodamos com o seu mundo social, apenas tiramos dele o que precisamos. Como deve saber, não pertencemos ao seu contexto social comum. Você faz parte de uma nova linhagem, eu em particular acho essa nova linhagem muito preocupada em salvar o mundo ou coisa assim. Isso pra mim é ridículo perante aquilo que somos ou o que podemos fazer e ser. Acho o fato de você viver numa cidade grande por demais esquisito. Pessoas como nós não têm amigos nem falamos com os vizinhos. O mundo deles é muito pequeno e simplório pra nós.

 

A recepção não foi das melhores, mas, o meu objetivo de estar ali me manteve controlado e calmo. Durante os dois meses que passei na companhia deles, observei que nenhum deles tinha alguma relação afetuosa ou maleável uns com os outros. Todos tinham seu quarto individual, as mulheres não tinham amizade nem entre elas, nem com os homens. Conversei várias vezes com todos eles separadamente e também em grupo. Em cada seção de conversa, muita coisa me era esclarecida, outras coisas eram novidades. Mas nada ficava com dúvida ou sem uma elucidação total. Os assuntos não eram nada que se possa abordar explicitamente aqui, um misto de extraordinário, assombroso e assustador. No mundo deles assombroso e assustador não são a mesma coisa. Cada uma dessas palavras tem um peso e uma qualificação diferenciada.

 

Um deles, o que eu consideraria como sendo o mais perigoso, fazia trabalhos nada convencionais. Numa das vezes que sai com ele para ir ao centro da cidade para comprar umas mantas para o frio, na volta para casa estávamos com quatro sacolas grandes e pesadas. Ele percebeu minha dificuldade em carregar duas grandes sacolas pesadas. Parou em uma calçada numa rua movimentada e fez sinal para eu parar também. Assim o fiz. Foi ai que eu vi de perto qual é, e como é o poder de um feiticeiro de verdade.

 

- Você sabe dirigir não é? – Perguntou-me. – Eu respondi que sim. – Vou arrumar um transporte para casa, você dirige, eu não gosto de máquinas. – Disse ele. – Respondi que sim. Nesse momento um homem estava estacionando um automóvel de quatro portas próximo de onde estávamos. Ele esperou o homem sair do carro, chegou bem perto dele e tocou no ombro do homem dizendo: - Vou precisar do seu veículo por uma hora, vou deixá-lo próximo a uma delegacia, você o encontrará mais tarde, agora, dê-me a chave. – Só posso dizer que acreditei porque vi isso acontecer bem na minha frente. Incrivelmente o homem entregou a chave do veículo e ficou parado próximo. – Entre no veículo e dirija. – Disse o feiticeiro. – Foi o que fiz, abri o porta-malas e coloquei as sacolas dentro, entrei no carro e dirigi até uma delegacia que ficava próxima da casa dos feiticeiros. Deixamos o veículo lá estacionado com a chave na ignição.

 

No caminho para casa perguntei ao feiticeiro como ele fez aquilo, o homem entregou o veículo sem questionar nada, sem nenhuma palavra. – Coisas que nós feiticeiros podemos fazer, procuramos não tirar proveito disso, mas, às vezes fazemos coisas assim. Não se preocupe daqui uma hora ele vai encontrar o veículo dele e vai pra casa tranquilamente, amanhã nem vai lembrar-se de nada. – Disse ele.

 

Numa outra conversa com uma feiticeira, ela me revelou que aquele feiticeiro era um mestre na manipulação da consciência. Ou seja, ele tinha o poder de manipular as pessoas em seu favor ou para seu bel prazer, mas, que era muito comedido, só agia quando necessário. Cada um deles tinha uma especialidade no mundo da magia. Um mundo tão estranho para mim quanto seria talvez o solo lunar. Mas, de certa forma, eu não me assustava e acabei me acostumando com eles.

 

No mundo dos feiticeiros existem regras rígidas, não cumpri-las é um perigo imenso. Num dos corredores da casa havia uma caixa completamente cheia de dinheiro. Ninguém pegava nada a não ser que fosse preciso, mesmo assim avisava ao chefe do grupo. A casa tinha mobília simples, mas, muito bem conservada e cuidada, extremamente limpa. Também usavam roupas muito simples para não serem observados pela população local.

 

As seções de conversação com todo o grupo aconteciam todas as noites, vez por outra eu conversava isoladamente com um deles durante o dia. Num certo dia eu notei um olhar diferente de uma das feiticeiras comigo. Imediatamente o chefe do grupo chamou-a e disse para ela não se aproximar de mim com aquelas intenções. Ela obedeceu sem discutir nem dizer nada. Mas, no dia que eu fui embora, o chefe pediu para ela me acompanhar até a estação rodoviária, de onde eu tomaria um transporte para ir para o aeroporto, que ficava uns trinta Km da estação. No caminho para estação ela pegou na minha mão e me fez parar. Sem entender porque paramos, olhei para ela para perguntar por que, então notei que estávamos parados de fronte a um pequeno hotel. Entendi sem que precisássemos dizer nada um pro outro, entramos no hotel e passamos três horas lá.

 

Nesse hotel foi que eu pude conversar com ela mais intimamente e saber mais sobre os feiticeiros e ela mesma. O que descobri sobre ela é que, além de muito bonita, era também muito perigosa. Despertar a ira de uma mulher como ela é assinar sua própria sentença, sem direito a julgamento. Outra coisa que notei é que ela estava há muito tempo sem contato íntimo com um homem.

 

O pouco convívio com essas pessoas foi uma experiência sem igual. Nunca eu poderia supor, nem sequer imaginar o que aprendi com eles. Mas, uma coisa bem real que aprendi com eles, entrar no mundo da magia é um caminho sem volta, não há como escapar do mundo mágico que eles vivenciam. Sem dúvida, eles têm muito poder sobre as coisas e as pessoas. Porém, isso os isola do mundo convencional.

 

Fim parte 1

 

Charles Silva

Género: 

Comentários

O capítulo 1 contém 12 partes, serão publicados se solicitados.

 

Este não é um tipo de literatura poética, e sim esotérica.

 

Boa tarde

Também me interesso por esoterismo. Realmente o mundo da feitiçaria tem tanto de perigoso como de interessante, é um mundo que a sociedade coloca à parte sem realmente reconhecer o seu enorme poder.

Gostei

NOSSA! VOCÊ É CORAJOSO HEM? PODER MAIS FORTE QUE O DELES SÓ O DE DEUS! SOU PROVA VIVA DISSO!

 INTERESSANTE SUA ESCRITA!

BEIJOS!