Letras do Poeta

 

Ninguém percebe algum começo neste vago silêncio de Cinderela,

Sem um quê de vida para tomar nota.

O que deve então ser já que nada és

Não és, mas existe e vive, respira, pulsa...

O universo palpita a tomar lugar do ser

Em sentido louco para ejacular

A desenhar símbolos espermáticos

Em conflito com a forma, mas na forma

Bem como estrelas bordadas no céu não escrito ainda.

 

Vejo-as acordando nesta manhã branca de pura página

Não usada aos poucos no pouco da espera

Formam linhas tristes do adjetivo

Deste condado pedinte por significados

Desesperados em rios alfabéticos

Na brota de algo por lacrimejar olhos,

Algo por sutil ânsia a contar

No coração ao rápido levante da ideia.

 

O antes nada deita algumas lágrimas de tinta

Ao acaso uma a uma sem culpa, desvario ou razão, ou emoção

Formam fila,

Com licenças charmosas saem uma a uma

Na desordem deste bocado de inquietude.

Algumas por estranhos efeitos dalgum desejo são botadas a sós

No artigo servo com mãos para substantivos reis.

Ao longe aproximam-se aos universos diminutos

No aqui imenso da obra,

Beijos doces dos filhos e filhas juntas no nascer

De mães verbais ao teatro da promessa.

Bebe-se em desenho a tinta a dançar

No que imagens brincam na rua precisa com dúvida de quem míngua

Em amar à primeira vista da vida na benção do texto

&

Com elos ferrosos no frio amor dos movimentos valsantes

Do escritor por respirar a fio

A falta dum quê limitado,

No colocar vida na vida na pena de apenas viver.

 

Não há heróis matadores nem tronos

Que sem guardas deste império alfabético

Em socos e flechadas do confuso

Em meio ao assopro dos lábios ainda não rabiscados

Acometem o desalinho destes.

Oh! Impossibilidades em gritos

Quais noites insanas desesperadas por manhãs tristes

Procuram a escadaria do dom maior?

 

Todas crescem em seu devido tempo

Nos bons maus tempos da causa,

Então abarcamo-nos nestas sombras das vírgulas silenciosas de anjos

Que sóis dizem gritando adeus aos campos já semeados

Buscando a brota fulminante das flores

Com perfumes que vidam mais e mais

Os brilhos pensar.

 

Lá fora todas as suaves nuvens... A lenta briga com horizonte

Para formar no indefinido quadro um rosto

No todo roubado da vez,

O que não se vê com olhos

Pinta-se aos olhos a cascata com faces de gestos tristes,

Veio a brisa mordaz,

Por um momento vimos-nos no oceano aceno de nosso quarto

À mercê do engano afogados em nossos males

Em forma de móveis e lâmpadas com luz de gema.

Cabeças para fora da janela,

Saímos do afogamento

Havia sombras humanas nas calçadas.

O feriado das letras expulsou a cidade.

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