LYRA XXIII.

N'um sitio ameno
Cheio de rosas,
De brancos lyrios,
Murtas viçosas;

  Dos seus amores
Na companhia
Dirceo passava
Alegre o dia.

  Em tom de graça,
Ao terno amante
Manda Marilia
Que toque, e cante.

  Péga na lyra,
Sem que a tempere,
A voz levanta,
E as cordas fere.

  C'os doces pontos
A mão atina,
E a voz iguala
A voz divina.

  Ella, que teve
De rir-se a idéa,
Nem move os olhos
De assombro chêa.

  Então Cupido
Apparecendo,
Á bella falla
Assim dizendo:

  _Do teu amado
A lyra fias,
Só porque delle
Zombando rias_?

  _Quando n'um peito
Assento faço,
Do peito subo
Á lingoa, e braço_.

  _Nem creias que outro
Estylo tome,
Sendo eu o mestre,
A acção teu nome_.

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