"Somos Usuários de Crack!..."

Mortos-vivos?
Somos uma mancha humana
Da cidade.
A lata... 
A vida por qualquer valor de barata!
Temos uma forma estranha
E uma coleção de atrocidades.
 
Aqui, impera a Lei da Sobrevivência.
Só quem vive no fundo do poço
Mata e morre
Rouba e mente
Xinga e corre
Pula! Rasteja! Grita! Fode!
Tudo pela amarela
Não existe a desistência...
 
Sempre no livro negro,
Da miséria insana.
A aparência
Mais parece um cadáver
Correndo atrás de alguma grana
Um cadáver
Vendendo alguma coisa inútil
Em troca de uma boa escama!...
 
Muita violência, ódio, mágoa
Abuso sacana.
Por cada pedra fumada 
Uma nova mácula!
O sabor do erro na prática.
A família do sangue que ninguém se importa!
 
Somos seres humanos 
Clamamos a solidariedade 
Mas ninguém vem ajudar
E bater na porta
Em tom de amizade.
 
Como mortos-vivos 
No meio das ruelas da cidade...
Com desejo total de se chegar ao inferno
E não interessa o shopping, a moda, a sinaleira
O empresário ou o futebol.
Foda-se a lei, viva a lei do farol.
Viva e enxergue a realidade
Nem a polícia, 
Nem a luz do dia!
Nem a irmã chorando
Ou a panela vazia
Nada disso faz sentido
Quando o que importa é o cachimbo. 
 
Nada mais interessa 
Pra essa
Velha carcaça vazia
Que se degenera aos poucos 
Sem sinal de simpatia.
Sem astral
E honestidade
Sem primazia.
 
Debaixo do viaduto, passando fome e frio. 
Vendo o desnecessário.
Vendo o mal exemplo
Desde cedo
Não há 
Não há como ter medo.
 
O cifrão do lado egoísta
Nunca vai se acabar.
Enquanto o drogado 
Vai tendo que se humilhar.
A droga fortalece a melhor classe
Que não tem piedade
Pois nascemos assim, 
Matamos e berramos
Numa imaginária, brutal
E cega concorrência!
Somos frutos da desigualdade. 
Filhos da mãe violência...
 
22 . 11 . 2014
Género: