Geral

O PSALMO.

Quanto é grande o meu Deus!.. Té onde chega
      O seu poder immenso!
Elle abaixou os céus, desceu, calcando
      Um nevoeiro denso.
Dos cherubins nas asas radiosas
      Librando-se, voou;
E sobre turbilhões de rijo vento
      O mundo rodeiou.
Ante o olhar do Senhor vacilla a terra,
      E os mares assustados
Bramem ao longe, e os montes lançam fumo,
      Da sua mão tocados.
Se pensou no Universo, ei-lo patente
      Ante a face do Eterno:
Se o quiz, o firmamento os seios abre,

Fervet amor

A conversa cahiu no casamento.
E defronte de nós, n'esse momento,
Noivava um par alegre de pardaes.

AO HOMEM

      Segundo as tradicções que vão sumir-se
      Na noite secular das priscas eras:
      Rugiram contra ti, Homem, as feras,
                  E as coleras do mar;
      Dos ceus revoltos os trovões e os raios;
      Qual reprobo vivias no universo
      Inerme, nu e só, na sombra immerso,
                  Sem Deus, sem luz, sem lar!...

A UM CERTO HOMEM

Agora és todo nosso: a rude voz da historia
Já póde hoje falar
E dar-te um balancete ás nodoas e á gloria
Rei-sol de _boulevard_.

Que dias d'esplendor! Porém como começa
A noite e a podridão!
Foi Deus que te mandou tambem para a Lambessa
Da eterna punição!

Enfarda a tua gloria e leva-a que é vergonha
Que vejam ámanhã,
Que até lhe depennou as aguias de Bolonha
O abutre de Sedan!

*LUTHERO*

Ah, és tu diabo?...
     (Lenda mouacal)

Luthero, o frade austero e macilento,
Encontrou a Satan dormindo um dia,
N'uma rua d'Erfurt, á ventania,
Envelhecido, calvo e vinolento.

Dorme! gritou-lhe o frade... a teu contento,
Guloso Pae da Indigistão, da Orgia!
Renunciaste as lições de theologia,
Ó velho corvo mau do Firmamento?!

O mundo como tu é calvo e velho;
A Egreja é o lupanar do Evangelho;
E tu ó ébrio, gulotão, descanças!?...

Poveiro

Poveirinhos! meus velhos pescadores!
Na Agoa quizera com vocês morar:
Trazer o lindo gorro de trez cores,
Mestre da lancha _Deixem-nos passar_!

Far-me-ia outro, que os vossos interiores
De ha tantos tempos, devem já estar
Calafetados pelo breu das dores,
Como esses pongos em que andaes no mar!

Ó meu Pae, não ser eu dos poveirinhos!
Não seres tu, para eu o ser, poveiro,
Mail-Irmão do «Senhor de Mattozinhos»!

O Homem e o Mar

Homem livre, o oceano é um espelho fulgente
Que tu sempre hás de amar. No seu dorso agitado,
Como em puro cristal, contemplas, retratado,
Ter íntimo sentir, teu coração ardente.

Gostas de te banhar na tua própria imagem.
Das-lhe beijo até, e , às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,
As queixas que ele diz em mística linguagem.

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