ANJO E VIRGEM.

 

      Virgem, que era o que sentias
      Quando ao vento desferias
      Essas frouxas harmonias
      De um incerto murmurar?
      Virgem, que era o que sentias
      Teu santo seio agitar?

      Achavas o mundo um ermo,
      Onde ao coração enfermo
      Dos horisontes sem termo
      Não vinha uma aura de amor?
      Achavas o mundo um ermo,
      Fertil só de fel e dor?

      Ou teu suspirar sentido
      Era por ver desmentido
      De amor o sonho querido,
      Que sonhaste, alma gentil?
      Ou teu suspirar sentido
      Foi dor ligeira, infantil?

      Era o teu anjo innocente
      Que passára mansamente
      A sorrir divinamente,
      Mas que outra vez não volveu?
      Era o teu anjo innocente,
      Que víras subir ao ceo?

      E ficaste pensativa
      Sobre esta terra captiva
      D'esperança, e d'amor esquiva,
      Coberta com veo de dó;
      E ficaste pensativa
      Ao ver-te perdida e só.

      Oh! esse tenue gemido
      Do seio teu despedido,
      Qual anhelito sumido
      Que a morte veiu cortar,
      Oh! esse tenue gemido,
      Que não pudeste occultar...

      Foi longo adeus de saudade
      Aos dias da tenra edade,
      Que envoltos na eternidade
      Ligeiros viste fugir;
      Foi longo adeus de saudade
      Ao teu primeiro sorrir!

      Do ceo á terra baixaste,
      E quando nella te achaste,
      Tristemente suspiraste
      Ao ver-te perdida e só;
      Do ceo á terra baixaste,
      Á terra de pranto e dó.

      Virgem, virgem, mal pensavas,
      Quando triste suspiravas,
      E num gemido enviavas
      Longo e doloroso adeus;
      Virgem, virgem, mal pensavas
      Que eras um anjo de Deus.

Março de 1849.
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