Deixa me invernar

Neste 25 de abril,
Nas comemoração, da “revolução”
Do que parece uma ilusão
Nesta nação, País débil,
 
Nesta triste primavera
Quem me dera
Que como as flores,
Que com todas suas cores,
A esperança renascesse,
 
O cravo de novo esclarecesse,
O espirito de abril aquecesse,
A dor do povo desaparecesse,
Mas neste jardim 
 a beira mar plantado,
Nenhum parasita foi eliminado.
Maldito, Maltratado jardim,
No qual só o bicho é duplicado,
Subjugado por um poder ruim,
Esta a gélida austeridade condenado,
Vampirizado num inverno sem fim,
E assim, debaixo deste sol frio,
Perdura o inverno na alma, frio,
Mas é quente verão para vampiro
O sangue jamais foi tão barato
A orgia jamais foi tão luxuriosa,
A vitoria nunca tão gloriosa…
 
 
Neste inverno frio, 
 Neste inverno sombrio, 
 Neste Portugal de arrepio, 
 Pais no qual já não confio,
 
Deixa me hibernar deste mundo insensato
Onde, mesmo em nome de Deus matam, lapidam
Violam, condenam tantos inocentes, blasfemam
Sem remorsos, mulheres e crianças sacrificando. 
 
Deixa me hibernar destas pessoas cheias de orgulho
Que desprezam todos os que não são como eles.
Homens- bestas dirigem, cegos e sedentes de poderes,
Para interesses pessoais, orgulhosos frente ao espelho. 
 
Deixa-me hibernar distante dos seus lindos e falsos discursos,
Escritos com palavras que são quase sempre falsas,
Mentiras calculadas, vazias, recitadas e enganosas
Dando esperança aos que têm coração, manipulando-os. 
 
Deixa-me hibernar longe dos sonhos destruídos.
Trabalhada, cuidada, amada, a macieira trará frutos,
Para conseguir comprar um tecto, pôr-se ao abrigo.
Era um pouco, de cada um na vida o objectivo. 
 
Deixa me hibernar deste mundo em loucura,
Onde se é julgado pelo status, nome ou economia,
E que se lixem todos os irmãos que endividados à vida
Encontram-se agora a lutar pela sua própria sobrevivência. 
 
Deixa me hibernar, guardar as minhas ilusões,
Que sim, podemos existir sem ser peões.
Sobre o tabuleiro de xadrez da vida a jogar,
Acabamos sempre mate, sem esperança de ganhar. 
 
Deixa-me hibernar, esquecer a crise para a plebeia,
As desigualdades de um mundo que se fissura e quebra
Privações, por enquanto que, sem vergonha nem pudor
Acumulam ativos, riqueza, e nos vendem, falam de Rigor. 
 
Deixa me hibernar, o vosso mundo assusta-me com todas as alertas
A violência por toda a parte, os atentados demasiado verdadeiros,
As seringas perdidas às saídas dos liceus, a vitória dos trapaceiros,
As mulheres, o respeito, a esperança por toda a parte ficando encobertas. 
 
Deixa me hibernar, viver com os meus arrependimentos,
Saudades de um mundo repleto de amor e solidariedade, 
 Com verdadeiros valores, liberdade, fraternidade, igualdade,
Que alguns no entanto ainda sentem na alma, por momentos…
 
Deixa-me hibernar, apagar televisão e radio
Renunciar aos jornais, propaganda, mais não os ouvir…
Deixa me hibernar, triste, enjoado e resignado
Vivendo para vos pagar o direito a existir.
 
Neste inverno que perdura, 
 Nesta estação tão obscura, 
 Neste Portugal sem cura, 
 Pais no qual ninguém futura…
Neste inverno frio, 
 Neste inverno sombrio, 
 Neste Portugal de arrepio, 
 Pais no qual já não confio...
 
 
Neste 25 de abril,
Na data da dita “revolução”
O que vale é a resolução
De qualquer banco débil
 
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