DU BOIS, Wiliam - Filósofos Modernos e Contemporâneos

DU BOIS, WILLIAM.

1868 – 1963

A Luta pelos “Direitos Civis” e contra a segregação racial; o primeiro negro estadunidense a conquistar o doutorado em Harvard.

Alguns princípios básicos formam o roteiro da vida de WILLIAM DU BOIS, cujo empenho e talento levaram ao mais alto grau da vida acadêmica, numa época em que o selvagem racismo nos EUA não era atenuado por nenhuma “Política Afirmativa (como as cotas nas Universidades, por exemplo), nem por qualquer outra atitude de valorização da etnia negra.

O fato é que esse jovem negro sempre se norteou pelas seguintes premissas:

1 – Aspiramos a uma vida mais ampla e mais plena.

2 – Para lograrmos êxito, é necessário acreditar na possibilidade do progresso.

3- Pois, se perdemos essa crença, é como se morrêssemos em vida. Teremos uma “existência sem desenvolvimento”.

4 – Devemos, então, acreditar na vida.

E justamente por ter essa crença inabalável, foi que ele conquistou todos os seus objetivos e comprovou que a sordidez do racismo não se sustenta ante a menor consideração racional.

Desde jovem, DU BOIS demonstrou seus esplêndidos dotes intelectuais e éticos. Ganhou uma “Bolsa de Estudos” na universidade Fisk e estudou por dois anos em Berlim, Alemanha, antes de ingressar em Harvard, onde foi aluno e, depois, professor.

Ali, além do trabalho acadêmico, escreveu sua célebre tese sobre o “Tráfico de Escravos” e construiu a carreira que lhe rendeu, entre outras distinções, o titulo de doutor, ou o Doutorado.

Foi o primeiro negro estadunidense a galgar essa posição e sua voz tornou-se pioneira na defesa dos direitos de todos os oprimidos.

Paralelamente às suas carreiras de Professor e de Escritor, militou vigorosamente no “Movimento Pelos Direitos Civis” e contra a discriminação racial.

As Polêmicas, as Censuras e as Críticas

E como não poderia deixar de ser, parte de seu ideário sofreu pesadas censuras oriundas de simpatizantes e adeptos do sistema racista que à época era instituído oficialmente no país; bem como de outras vozes que discordavam de suas posições políticas e sociais.

Um exemplo disso pode ser observado quando sua pena criou o célebre elogio fúnebre ao governante soviético, JOSEF STÁLIN, que faleceu por ocasião de sua militância.

Ainda hoje não se sabe se tal elogio foi sincero, ou apenas uma forma de marcar uma posição contrária ao quadro político dominado pelas elites euro-descendentes.

No entanto, polêmicas à parte, pois estas são indefectíveis aos que ousam ter e expressar opiniões contrárias aos lugares-comuns que pupulam entre a boçalidade dos medíocres, Du Bois passou à história como um dos mais importantes pensadores da Filosofia Moderna e Contemporânea e como o precursor de várias teses filosóficas da atualidade.

Tão importante, aliás, que o grande líder negro MARTIN LUTHER KING o chamou de a expressão “da insatisfação divina com todas as formas de injustiça”.

DU BOIS e o Pragmatismo

Porém, a exemplo de outros eruditos estadunidenses, o pensamento de WILLIANS DU BOIS não conseguiu ir além do chamado de “Pragmatismo”; ou seja, daquele “Sistema Filosófico” voltado para o lado prático, físico, material da vida. Sem incursões em questões mais profundas, nem em abstrações superiores.

O Pensamento de DU BOIS e o Brasil atual

Porém, ainda que esse fato possa empobrecê-lo intelectualmente, já que o leva ao largo das questões mais profundas e dos “Fundamentos Primeiros”, vale à pena conhecer seu pensamento, principalmente, para que nos situemos com mais propriedade sobre algumas questões que têm frequentado o cotidiano brasileiro nos últimos anos, com a adoção de medidas que visam reparar as injustiças cometidas contra os negros, contra os indígenas e contra outros grupos sociais e étnicos.

O progresso como via de redenção do homem.

É recorrente na obra de DU BOIS a sua convicção de que o homem caminha para o progresso. Expressou-a, por exemplo, na seguinte frase:sempre os Seres humanos irão viver e progredir para uma vida maior, mais ampla e mais completa”.

Essa linha de pensamento mostra o quanto ele foi influenciado pelo Pragmatismo que, como se sabe, prega a tese de que o importante de fato é o sucesso, o êxito material, concreto, físico.

Contudo, a sua crença decorria mais de seu otimismo natural do que da conjunção dos fatos que lhe cercavam.

E, também, de suas incursões pela filosofia clássica grega e mais especificamente pela “Escola” de ARISTÓTELES, que afirmava o seu convencimento de que viver uma vida justa e correta, baseada na virtude e na razão, levaria o homem ao nível da EUDAIMONIA”, ou do “Florescimento humano”.

Ativismo Político.

Essa é a faceta mais conhecida do Filósofo, cujo ativismo mirava, principalmente, contra dois pontos específicos: o Racismo* e a Injustiça Social, já que ambos, no seu entender, eram obstáculos poderosos a emperrarem o caminho para uma vida virtuosa e feliz, conforme ARISTÓTELES pregava.

E como a desigualdade racial não pode ser debitada a nenhuma base genética, já que é um problema puramente social, DU BOIS insistia que tal deformidade só poderia ser tratada e eliminada com o comprometimento e o ativismo sócio e político de todo cidadão justo e honesto.

NOTA do AUTOR – Racismo* vigorava na época de DU BOIS, uma teoria chamada de “Racismo Científico” que pretendia provar cientificamente (sic) que os Negros seriam geneticamente inferiores aos Brancos. Para nós, brasileiros, conferir a insanidade dessa teoria é relativamente fácil e simples. Basta citar os inúmeros expoentes negros (as) nos Esportes, ou nas Artes e nos outros aspectos da vida nacional. Na Literatura, por exemplo, o fato do maior escritor brasileiro, e reconhecidamente um dos maiores do Mundo, ser o negro Machado de Assis, sintetiza o tamanho do equivoco e/ou da má fé que revestia aquela falsa “tese cientifica”.

E nessa batalha, o Filósofo foi incansável na busca por soluções que extirpassem todas as formas de Injustiça Social.

Argumentava (como que prevendo o Futuro) que a segregação e a discriminação (que já era em seu tempo uma das principais causas da criminalidade) fomentariam contínua e progressivamente a escalada da violência, a qual ganharia com o tempo tentáculos mais longos e difícieis de serem combatidos. Um verdadeiro câncer de garras afiadas que cortaria constantemente o frágil “tecido social”.

NOTA do AUTOR – para o Filósofo a violência seria, principalmente, o resultado indefectível da falta de respeito à dignidade da pessoa, da miséria, da carência de oportunidades e de perspectivas, além, é claro, de outros fatores que são inerentes às personalidades individuais.

Em suas pregações, ele alertava que a tarefa de alcançarmos uma sociedade mais justa está longe de se completar e que por isso, devemos sempre oferecer às futuras gerações, condições efetivas para acreditarem na vida, pois apenas dessa maneira é que poderão cumprir o objetivo final de “Florescer o Ser humano”.

A Última Nota

Em 1957, WILLIAM DU BOIS escreveu o texto que se tornou conhecido como a sua última mensagem ao Mundo. Pressentindo a proximidade da morte escreveu um curto discurso para ser lido em suas exéquias.

Nele, expressou seu desejo de que as suas boas ações tivessem sido importantes o bastante para justificarem sua vida. E que aquelas que não atingiram plenamente seus propósitos pudessem ser corrigidas e aperfeiçoadas pelos que lhe sucedessem.

Belas palavras, mas que talvez pecassem por um excesso de modéstia, já que as suas ações foram de tal porte que justificaram em muito, aquilo que o Mundo lhe deu.

Sua retórica erudita contribuiu efetivamente para aumentar a consciência do valor de sua etnia e para aumentar a credibilidade do “Movimento Negro”.

Em relação aos sucessores, o Mundo foi abençoado pelas presenças de lideres do porte de Luther King, entre outros, que se encarregaram com pleno êxito de levar sua bandeira adiante e consolidar algumas das vitórias que ele tanto desejou. Cumpriram-se, pois, seus desejos.

 

Produção e divulgação de TAÍS ALBUQUERQUE, desde as montanhas das Gerais, no inverno de 2013.

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