Enquanto a cidade dorme

Enquanto a cidade dorme

 

A cidade dorme enquanto passeio nas ruas, poucas pessoas, são personagens da noite. Os sonhos das pessoas adormecidas se confundem com o sonho dos acordados da noite. Eles sonham com os adormecidos, uma vida melhor, talvez mais sorte, talvez mais amor, talvez mais sustento. A cidade não dorme nos guetos e bares underground alternativos. Gente tatuada, cabelos soltos e brincos. Numa esquina uma guitarra frenética grita num solo de blues, então paro, observo, peço uma cerveja e curto a música. Uma dama me aborda com uma cantada barata, das dez palavras que fala, a nona já é sexo. Convenço-a a desistir e curtir o blues e um copo de cerveja. A moça insiste, digo a ela claramente, não faço sexo com quem não conheço. Só posso te oferecer a minha companhia e algumas garrafas de cerveja. Ela entende e me agradece, porém fica comigo. Alguém me chama no palco, desconcertado subo no palco, pego a guitarra e no microfone falo uma frase: -  “AGORA EU VOU CANTAR PROS MISERÁVEIS, QUE VAGAM PELO MUNDO DERROTADOS.” – O baterista entra, o baixista entra, começa o blues. E o dia amanhece ao som de blues, enquanto a cidade dorme.

 

Charles Silva

 

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