Escrevendo a saudade

Sinto necessidade de escrever,
como tenho necessidade do acto involuntário de respirar.
Começo por ver, depois olhar, depois olho para ver
o que não me mostra o olhar,
enquanto inspiro palavras eleitas
e expiro frases feitas.

Olho o vazio, com aquele olhar cego e langue, pensativo,
de estar olhando lugar nenhum.
Um vazio emotivo que se expande
à medida que diminui a presença corporal
e aumenta o jejum da mesma presença real.

Tenho fome de todos vós!
Quem me dera poder lambusar-me de tão transeunte ilusão,
lamber os dedos até aos nós,
deliciar-me, fartar-me(;..)
até à próxima refeição.

Longe, fome insaciável,
longe, mas perto.
Longe com a dor desagradável do incerto,
perto com o calor amistável do deserto
das amizades, repleto
de perigos e inimizades.

Porque, mesmo com falsos,
valem os verdadeiros
que fazem de baixos momentos, altos
e dos últimos os primeiros.

Por isso e mais,
sinto vontade de vos escrever,
expor os sentimentos racionais
que muitas vezes julgo iracionais
e de vos ter nos braços;
longe dos abraços da gente falsa
que procura amaços carentes entre as gentes desta valsa
que rodam de parceiro
sem lhes procurarem a veracidade,
na esperança de lhes cair dinheiro
e poderem comprar a felicidade.

Eu estou bem rodeado
por uma amizade de cimento
e sou fortemente abraçado
pelo vosso pensamento que é o meu pensamento;
combatendo, assim, a irá insaciável do Deus atroz.
Sou mim, palpável, mas também sou todos vós
nesta saudade inimaginável
que me leva a desejar
ainda mais atroz
o já, horrível e rapidamente, atroz.

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Comentários

Meu bom amigo, gostei do teu poema.

Um abraço.