A FOLHA DESBOTADA

 

      Volve folha desbotada,
      Outra vez á mão nevada
      Que do tronco te ceifou,
      Volve, e dize sem receio,
      Que te apertei contra o ceio,
      Que o meu olhar te adorou:

      Vai discreta confidente,
      Dize tudo quanto sente,
      E calla o meu coração!
      Vai, que a tua voz sentida,
      Ha de ser por ella ouvida
      Com ternura e compaixão.

      Dize que ao ver um instante
      Anuviado o seu semblante,
      Pensativo o seu olhar,
      De sobresalto e receio,
      Sinto o coração no seio
      De repente a palpitar!
      Que a sonhei antes de vel-a,
      Como bem fadada estrella,
      Mensageira do Senhor!
      Que ao vel-a a voz da consciencia
      Disse: É esta na existencia
      A tua estrella de amor!
      De amor puro, intenso, ardente,
      Mas que occulto eternamente
      No meu peito ficará!
      Que no infortunio nascido,
      Só commigo tem vivido,
      E commigo morrerá!

      Ai! folhinha desbotada!
      Outra vez á mão nevada
      Volve de quem te ceifou!
      Volve, e dize, sem receio,
      Que te apertei contra o seio,
      Que o meu olhar te adorou!

Maio de 1854.
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