Meu ideal

Meu ódio é obscurecido pela minha temperança calma, onde demonstro a imagem de um monge, sempre sereno com as circunstâncias da vida. Todos os problemas com pessoas que me afligem são transgredidos em palavras apaziguantes, gestos de tranquilidade e expressões faciais ilógicas à minha alma. Acabo por escrever míseras linhas onde afogo meus detentores, estas mesmas linhas que são imprescritíveis no meu âmago; me odeio, no fundo do coração, me odeio. Não consigo me expressar em meu social e muito menos em prosas de palavras infindáveis. Um terço do que digo não é uma gama do que realmente penso, na realidade, tudo o que escrevi são vômitos na privada prontos para sumir na descarga. Essa prosa de agora, por exemplo, não é o que minha angústia quer falar, ela pede para se libertar, mas eu estou fitando-a todos os dias, guardando-a em meu peito.
Eu sou um mudo, sou deficiente, de palavras vazias a ideais quiméricas. Sou um plantonista em excelência: vivo imaginando uma vida onde consigo realizar meu bem-estar, meus livros e minhas conquistas. Com pesar, abro os olhos, me deparo com a realidade, dói. A minha velha companheira Angústia sempre retorna quando penso muito sobre isso; ela tenta me consolar, como uma mãe que consola seu filho após se sentir triste. Mas ela se esquece que ela me faz mal, coloca a mão no lado esquerdo do meu peito e começa a me afagar. Sonho no dia que tudo isso vai acabar, onde após a minha morte, me restará eu sozinho no mundo, no espaço sideral, junto com as lindas estrelas e planetas orbitando o nada. Quero derramar a última lágrima e subir ao céu como um foguete, serei um ínfimo elemento da galáxia dando razão a existência.
Eu sou pequeno demais, mas minha fantasia é magnânima, onde lá na minha imaginação, o bom e belo são a quintessência de meu mundo. Cada segundo que se passa, me converto a esse ideal; talvez tudo seja melhor para mim se eu for em direção ao caminho universal da vida, quando finalmente serei pleno.
 
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