A M.ME LOTTI

 

Na noite em que cedeu o producto do seu beneficio a favor de um asylo
de infancia desvallida.

      Canta oh! canta alma inspirada,
      Que jámais na tua vida
      Tiveste a fronte cingida
      Dos loiros que hoje vais ter.
      Canta: os prantos da orfandade,
      Á tua voz seductora,
      Se vão convertendo agora
      Em sorrisos de prazer!

      Oh! jámais em teus triumphos
      Quando erguendo o rosto altivo,
      A teus pés tinhas captivo
      O poder da multidão,
      Jámais sentiste no peito
      Entre o rumor delirante,
      Batter, como neste instante,
      De enthusiasmo o coração!

      Cada nota que desprendas
      Terá um eco no empyreo,
      Por que as palmas do martyrio
      Em rosas vais transformar.
      Oh! bem haja a Providencia
      Que na tua voz divina
      Poz a graça que fascina,
      E o condão de consolar!

      Quando no giro brilhante
      Da tua crescente gloria,
      Te venha um dia á memoria
      Esta noite triumphal,
      Pára, escuta, e docemente
      Sentirás no teu ouvido,
      Um murmurio agradecido
      De ternura filial.

      São elles os desherdados,
      Os que já sem lar paterno
      Erguem preces ao Eterno,
      E bençãos por teu amor;
      São elles a quem um dia
      Com teu inspirado canto
      Tornaste em sorriso o pranto,
      Em pura alegria a dor!

1860.
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