NUM ALBUM

 

      Não vês tu como inconstante
              Num instante,
      Ruge o sul, e turba o ceo,
      E que o mar, quedo, azulado,
              Brame irado,
      Sacudindo alto escarceo?

      Não tens visto na manhã,
               Flor louçã,
      Junto ás aguas rebentar,
      E á tarde, murcha, pendida,
               Já sem vida,
      Sem perfume, a desfolhar?

      Pois então queres, amiga,
               Que eu te diga
      Que o amor não é assim?
      Quando tudo empallidece,
               Se emmurchece,
      Se desbota, e morre emfim?!

      Essas illusões doiradas,
               Encantadas,
      Do primeiro albor da vida,
      São como a rosa louçã,
               Da manhã,
      Á tarde n'haste pendida;

      São como o ceo azulado,
               Que doirado
      Pelo sol de ameno dia,
      Se escurece de repente
               Tristemente
      Por uma nuvem sombria!

      E tu não queres, amiga,
                Que eu te diga
      Que o amor não é assim?
      Quando tudo empallidece,
                Se emmurchece,
      Se desbota, e morre emfim?!

Agosto de 1848.
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