O Fumante No Final

O fumante no final da sua trajetória 
Quis fumaçar as forças gastas com a vitória. 
Já não tinha. 
Já não tinha brasa.
Já não tinha asas. 
Quis despedaçar os pedaços untados em vão
Que já não tinha. 
Já não pensava.
Já não sentia...
O fumante, no final da impaciência,
Caiu no isolamento de si mesmo...
Os seus isopores com insulinas 
Viraram isopores com cervejas
E algumas seringas finas. 
O fumante, no final do compasso,
Caiu no passo do instante. 
O coração era à ele um teste.
O tridente elástico havia se ido
O herói homenageado havia morrido
E naquele ali ninguém mais investe!
Caiu junto à água do poço profundo.  
Quis fuçar e não sabia!
Quis ser dessa vez o primeiro amante
Sem confusão de orgia 
Pois já não tinha... Já não tinha.
Tinha solidão e agonia
Viu que ronceou a vida inteira
Por falso prazer, descompromisso e asneira. 
Calando a boca ao conformismo
Não brilhou como um diamante...
Nem fez nada de primeira
O seu atraso como exemplo agravante
Fez da vida uma simples brincadeira
Uma judiação verdadeira
Com os dois pés no lodo imundo, juntando a poeira do mundo
O fumante no final quis ser profundo
Comprou rosas e disse: Hoje eu mudo!
Mas como é que se muda assim tão de repente?!
O fumante então riu sem os seus dentes.
Beijou o fundo do cinzeiro
Com a boca do cigarro 
E suas costas doeram sem parar. 
Riu pelo esqueleto imprestável e descontente. 
Se viu sem os seus costumes 
Se viu na cena deprimente
Queria por que queria
Mas não quis...
Não foi comovente. 
Foi próximo ao maior de todos os desconhecidos
Que ele viu que aquilo havia mudado sua mente
Só no fim a gente nota o quão resistente
É viver por um fio, sem crase, como indigente...
Não se sente mais alegria
Mesmo com algumas coisas boas e corporais
Que quando se é humano se sente...
Foi então que o fumante apagou o cigarro 
E fixou os olhos na parede.
Imaginou um filme inteiro,
Com um roteiro diferente...
Imaginou tapetes vermelhos 
Ocultou os velhos erros
E seguiu o caminho atraente,
Se ocupou em amar
Viu que a janela era linda
De se imaginar
Lembrou de acabar aquela velha canção 
Que era muito bem-vinda na roda de violão...
O fumante no final, não era um fumante
Era o comodismo parasitário ofuscante
O fumante nem mesmo era um homem. 
Digamos que o fumante fosse a fumaça de um fragmento
Que essa fumaça pairasse segundos pela linha do tempo...
O fumante, no final era o instante
Que riu sem parar naquele momento!...
Depois chorou por todas as feridas
Acendeu outro cigarro e sentiu
O sopro de um papagalho em sua forma física. 
A vida é uma coisa com a qual não se brinca! 
O fumante, no final, era o padrão da nossa mídia. 
Era o caso sem solução.
Era a última e derradeira conquista
Que eles contaram em outra versão.
Quis cabeçear a bola da vez e não pode.  
Não tinha bola, nem vez 
Só uma mente vazia...
Uma puta sede de coca-cola.
Quis viver de subito e não podia
Quis que tudo voltasse e...
Não. Deixa quieto. Jamais voltaria. 
O sol do alto do sopé!
As carteiras de cigarro todo dia.
Sonha quem quer, realiza quem tem atitude
Lembrou da casa naquela gritaria...
Acreditem! o fumante fumaria tudo outra vez!
Doaria todos os seus aniversários
Por mais um cigarro aceso, talvez
Talvez fosse ao nada que o homem servia. 
E as suas inúmeras taças rasas de simpatia
Foram quebradas com o passar da sintonia
Talvez o fumante, no final, fosse essa nossa agonia. 
Essa eterna e sólida agonia
Que nos dissolve em um povo medroso
De índice geral fraco e de pouco valor.
Talvez ainda fosse um homem,
Que não conhecia o amor
Não lembro a cor da gravata
Nem a existência na linha...
Não afirmo se foi exata
Mas o fumante, no final
Era a nossa picuinha. 
 
 
19 . 08 . 2014
Género: