O Primeiro Sorriso do Mundo

Ninguém nunca sorria.

Nas cidades, nos campos.

Por todos os cantos,

Todos eram como que pedras.

Mesmo as crianças,

Ainda que fosse dia de festa,

Tanto fazia morte ou nascimento,

Vitória do seu time num sábado ensolarado,

Carrancas estavam estampadas.

Até o dia em que um senhor sorriu,

Riu dos entediados,

Não entendeu como acontecera,

Mas sentiu-se bem, aliviado.

Foi detido por comportamento subversivo

Torturado, chamado de possuído,

Drogado.

Não que os possuídos ou os drogados rissem,

Pois aquele sorriso senil rejuvenescedor,

Fora de verdade, apesar de fora de base.

Mas não adiantou prender o senhor,

O riso estava à solta e se alastrava,

Do recém-nascido

Ao doente terminal,

Do executivo

Ao malabares no sinal.

O velho que estava preso ganhou a liberdade.

Quando os repórteres se aproximaram

Com suas perguntas sem graça,

O velho sorriu como se tudo,

Tudo o que se passara com ele fosse piada.

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