Outros olhares

Retirei hoje da solidão
 
pequenos prantos de tristeza
 
que disseram adeus àquela
 
saudade
 
preciosamente arrumada
 
na prateleira deteriorada
 
nas ténues horas silenciosas
 
endereçadas via postal
 
sem remetente, nem mais inspiração
 
 
- Amanhã absorvemos renovados
 
aqueles teus adornos de beleza
 
que se perpetuam em cada detalhe
 
festivo do tempo
 
em plena deflagração
 
que flama enlouquecidamente
 
neste poema que escrevo
 
sem mais alento
 
 
– Foste a maré
 
que o destino se encarregou
 
de ondular até mim
 
navegando-nos imensos onde
 
pudéssemos matar de sede
 
nossas existências sequiosas
 
à mercê de um poema disperso
 
tantas vezes fascinado
 
ou infiltrado no ser de mim
 
recordando-te
 
oferecendo-te
 
um inteiro coração incinerado
 
de alegrias semeadas nas cores
 
deste tempo que revivo
 
dia após dia, em ti edificado
 
 
– Naquele instante
 
por instantes tranquilizei
 
o destino travesso onde
 
sussurram dois corações
 
silenciosos
 
pavimentados entre ruelas
 
que fluem ao ritmo dos passos
 
descompassados
 
porque minhas súplicas
 
eu sei
 
tu sacias inteira
 
valsando a noite de contentamento
 
enfeitada  furtivamente
 
quando amanhece o dia
 
à tua janela exposta pela
 
gentil harmonia do sol
 
 
- Como o vento fluindo num repuxo
 
deliciosamente fecundo de vida
 
abalroamos todos os limites
 
onde famintos purificamos
 
dissimulados
 
muitos beijos jorrados em sintonia
 
todos os silêncios enamorados
 
temporariamente em reclusão
 
infinitamente acelerando a eternidade
 
no tempo
 
assim quando nos entregamos
 
completos, envolventes
 
consumindo-nos neste compromisso
 
onde jamais abdicamos da vida
 
vivendo em périplos de alegria
 
rugindo em fusões de abraços
 
adocicadamente submissos
 
FC
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