Sinto que sou

Sinto que sou
o que sinto ser.
Um pássaro que não voou;
Um amanhã que não chegou a amanhecer.

Sinto que estou em falta,
desconhecendo-o.

Sou nada, tudo o que não queria ser,
[sou] uma miragem arrastada
prepositada a me fazer ver.

(...)

Eu vejo os outros,
que ainda têm menos que eu
e lamúrios tão poucos!
(A força que Deus lhes deu)

Como posso ser infeliz
se tenho até mais do que quis?
Fecho-me, desligado,
num aparelho que não liga.
Queixo-me e queixar-me-ei,
mas tenho o rei na barriga.

Não posso ficar satisfeito,
nunca (...) completamente.
Ter-me é perfeito,
mas poderia ser sempre diferente.

Há em nós todo o desejo do mundo,
toda a força de querer mais;
a mão que te tira do fundo
toda e cada vez que lá cais.

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Poema profundo, introspetivo

Um abraço, Grande Rui.

João Murty