Sob o luar da solidão...

Num breve instante do tempo
faço meu apelo à vida
reclamando aos tentáculos
da madrugada que me devolvam
teu perfume levado na eira
dos sonhos onde quase me estatelo
regalando-me inteiro num acto concludente
de amor que sem rodeios atropelo
 
Inundamos o corpo fervendo
de desejos
com ondas de maresias marejadas
de ternura pousando emaranhadas
no leito terno do teu rio onde pernoitamos
sequiosos, abençoados, esventrados
pelos teus adocicados e apetitosos gracejos
 
Faz-te ao recanto de mim
conchega-te entre a minha solidão
clamando na intempérie dos ventos
até que cada pingo de chuva adormeça
a formosura cosmológica dos tempos
 
Abre-me os teus inadiáveis abraços
memorizando as saudades premeditadas
onde atapetamos o silêncio
andando no vão deste sonho clandestino
que padece esquecido na escória
do tempo palpitando enlutado…sem destino
 
Ontem acordei abraçado aos beirais
do teu sorriso
sentindo o desenlaçar quieto dos
beijos onde deslizo meu tacto
consumindo-te a preceito
Agarrando-me à tua pele
tatuando este poema
breve e passageiro
 
Desalinhámos o dia
abrindo as cortinas à noite que foge
temperando o noivado da lua
em gomos de luz indelével e vadia
Sintonizámos todos os momentos da nossa
existência trajada com tanta ousadia
 
Inspirei cada verso que trago
acantonado à tua essência
caiando meu poema esquecido
entre as peripécias coloridas
de um rabisco errante fenecendo
nas margens da solidão que
eclodia gemendo
 
Despertámos a noite furtiva
pernoitando nas esquinas
das tristezas tão atrativas
desembocando entre
a vagueza de um súbtil lamento
e a nossa cumplicidade dispersa
na biblioteca de palavras paliativas
ardilosas perversas e quase intuitivas
 
FC
Género: