Gótico

SOBREVIVER

Nas paredes de pedra calcária da entrada
Esvoaçamos já pelas escadas de fragas
Acorrentamos os nossos nomes na hera
Inventamos traços onde nós nos amamos

Concordamos nas palavras como se fossem
De um último adeus, de um último comboio
Que partiu para longe sem, sem ti, sem mim
Janela de casa que dava para o florido jardim

MORTALHA NAS ONDAS DO MAR

I
O mar de mortalha, embalada por gemidos
Que rasgas a carne de uma dor, dilacerante
Embalsas, todas as dores, entre murmúrios
Desfalece, misteriosamente num total afligir
II
Martírio transfigurado já pela sua angústia
Sombra das noites pesadas de tanta agonia
De tanto pavor da morte, desaparecia longe
Madrugada desses pensamentos impacientes
III
Os corvos voavam ao seu redor já famintos
Enroscados a sua negra fria mortalha de dor
Desespero, na agonia da carne que se dilacera

VELHA MORTALHA

Mar velho feito em mortalha
Que na fria carne rasgada
Embalsamas todas as dores.
 
Entre os murmúrios tristes
Voz escura na calada garganta
Nas tramas obscuras da queda.
.
Ondas serenas de maremotos
Nos carinhos remotos em fúria
Lágrimas tuas em gritos roucos.
 
Tormentas tolas numa ambrósia
Vagos espaços nas lentes perdidas
Os arcanjos cantam proclamam amor.
 
 

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