Entrevista com a nossa autora Eduarda Barbosa

Nasci em Lisboa, no final da década de 50, no seio de uma família muito simples.

Assim que aprendi a ler, descobri que os livros abriam portas para outros mundos e isso fascinava-me. Este gosto pela leitura foi-me incentivado pela minha tia-avó, que me oferecia regularmente livros adequados à minha idade, que eu devorava num instante.

Por volta dos meus 10 anos comecei a escrever, principalmente quadras sobre a natureza. Hoje, a minha poesia escreve-se ao sabor do que penso e do que sinto, não respeitando regras, mas conservei a facilidade em fazer rimas. Às vezes, por brincadeira, amigos ou familiares escolhem um tema e pedem-me quadras a propósito, o que acaba sempre em disparate (risos) .

Ao longo da minha vida fui sempre escrevendo , embora as exigências profissionais (ligadas ao marketing e à publicidade) não me deixassem tempo para explorar a escrita como eu gostaria.

Guardei todos os papéis, todos os cadernos onde anotei ideias, frases, esboços de personagens, características de pessoas que eu achei interessantes e tudo o que me serviu de inspiração para agora, que tenho mais tempo, me dedicar ao que tanto gosto de fazer: escrever.

Livro publicado: Formas de Sentir, poesia, Editora Poesia Fã Clube, 2023.

Qual é o seu processo criativo ao escrever um livro?

R: As ideias podem surgir-me em situações diversas: uma conversa que oiço na rua,  uma palavra ou uma frase dita por alguém com quem estou a falar, quando estou junto ao mar, às vezes até a lavar a loiça (risos). Anoto essa ideia num caderno, com alguns tópicos para desenvolver mais tarde.
Houve uma altura em que escrevia em qualquer papel que apanhasse: num pedaço de uma toalha de papel, num guardanapo, nas costas da conta da luz: o que fosse. Depois habituei-me a trazer um caderno sempre comigo.
Depois vou para o computador para desenvolver a ideia, aprimorar a escrita, etc.

Quais são os desafios que enfrenta durante o processo de escrita?

R: Não me dispersar. Estou sempre com vários projetos ao mesmo tempo e chega um momento em que tenho de estabelecer prioridades, escolher o que quero terminar primeiro e focar-me nesse projeto.

Como você escolhe os títulos para os seus livros?

 

R:Escolho uma frase ou palavras de um texto inserido nesse livro, ou crio um titulo que se adeque ao tema principal do mesmo. Procuro títulos que despertem a atenção do leitor.

Existe algum tema ou género literário que gostaria de explorar no futuro?

 

R: Sim, quero explorar o romance e também os contos. Tenho ideia dos temas que quero desenvolver, mas ainda estão em fase embrionária.

Quais autores ou obras influenciaram a sua escrita?

 

R: Não sei se foram estes autores que me influenciaram, mas são autores de que gosto muito: Eugénio de Andrade, Fernando Pessoa, José Carlos Ary dos Santos, David Mourão-Ferreira, Sophia de Mello Breyner, Natália Correia, Maria do Rosário Pedreira e tantos outros.

Como é a sua rotina diária de escrita?

R: Em média, escrevo cerca de 4 horas por dia, sem horário definido, é conforme a inspiração, e depois faço alguma pesquisa.
Acho importante ir para a rua, ver como falam as pessoas, como se vestem, as cores que usam, como interagem, os pequenos tiques: tudo isto me espevita a criatividade para a escrita.

Qual é o papel da pesquisa no seu processo de escrita?

R: Para mim, a pesquisa é muito importante para a construção de personagens e contextualização da história.  
Por exemplo, ao definir personagens pesquiso assuntos como comportamentos, linguagem, meio sócio-económico,  etc. Na contextualização da história, pesquiso o modo de vida da época em que se passa a história: formas de falar e de pensar, profissões, vida familiar e outros tópicos.
Para a poesia, não faço pesquisa. É uma escrita mais à flor da pele e ao sabor do sentimento.

Como você lida com críticas literárias e opiniões dos leitores sobre as suas obras?

R: As críticas são muito bem-vindas e muito importantes pois permitem-me evoluir. Claro que haverão sempre pessoas que não gostam do que escrevo. Não faz mal, digam-me do que não gostam e porquê: isso dá-me outra perspetiva do meu trabalho, o que para mim é muito positivo.

Você acha que a escrita é mais um talento inato ou uma habilidade que
pode ser aprendida e aprimorada ao longo do tempo?

R: Acho que o talento dá muito trabalho. Pode-se ter talento para escrever, mas sem aprendizagem e sem trabalho não se chega longe.
Acho que é preciso ler muito, observar muito, escrever e reescrever muitas vezes a mesma coisa, até chegarmos a um resultado interessante. Não acredito em textos que saem de rajada, sem precisar de ser revistos e reescritos.