O Carlos e os Pombos

O Carlos e os Pombos

Desço ao piso -1 e entro no quatro 1 do Hospital da Universidade de Coimbra.

Toco suavemente nos pés do meu amigo Carlos. Ele acorda repentinamente, levanta o tronco e num ato reflexo olha para mim e fica em alerta vermelho! digo-lhe sorrindo:

- A Guerra de Angola já acabou não estás a ver o inimigo, se eu fosse o inimigo já estavas a falar com o São Pedro.

– Nem me lembres disso.

Rimos.

Ele pede-me o fato de treino com o nome de Portugal escrito nas costas e vamos na sua cadeira de rodas ao bar do -1 comer duas sandes de carne assada e dois sumos de fruta.

Depois fomos até à entrada principal do hospital fumar um cigarro e falar com alguns doentes que invariavelmente fazem o mesmo que nós.

O meu amigo Carlos tinha um hábito que me enternecia, desfazia lentamente um pouco do seu pão para dar aos pombos. Os pombos aproximavam-se da porta principal do hospital, depois pouco a pouco vinham ter com o Carlos que lhes dava o pão junto dos seus pés. Já nos conheciam e connosco comiam avidamente   para espanto das pessoas que passavam.

Quando nos esquecíamos de levar pão sentíamos que estávamos em falta com eles, pois eles vinham ter connosco reclamar a sua comida.

Um dia passou uma senhora muito aperaltada, uma coimbrinha, que do alto do seu elevado ego disse “que nojo, isto devia ser proibido”. Eu pensei para mim – não lhe falta nada para ser Par..

De imediato acalmei e pensei… como é encantador ver o Carlos e os seus pombos.

11:49

25/06/2018

MS

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