Paletó de madeira

Paletó de madeira

Cá estou eu agora, deitado dentro de uma caixa gélida e pálida, sem status, isso é um fato...

Ao meu redor amigos e parentes a chorar... Quantas lástimas... – Eu o amo tanto... Era o som que ressoava quanto eu estava entre eles...

Queria dizer-lhes algo, mas não posso, meu silêncio é como um vício que há tanto tempo desvio...

No âmago do momento até que tento pelo menos um intento que de tão lento se perdeu no vento...

Deitado a pensar em tudo que se passara toda a minha efêmera existência na terra dos viventes, vivi deveras momentos contentes às vezes um tanto diferente dentro do inconsciente latente... Mas tive momentos de muitas tristezas que de forma alguma apagaram a beleza que na minha vida repousava...

Amei... Sonhei... Escrevi... Fui poeta, fui ignorante fui um grande ambulante transeunte na grande estrada da vida... Que lida...

Deveras também odiei algumas vezes, mas descobri que o ódio é oposto a poesia e que no fim só nos causa mazelas que nos fazem sofrer, então eu sempre perdoara meus inimigos [e tive muitos]...

Porém hoje trago inerte ao meu lado alguns sonhos obliterados pelo tempo e pela sua falta, e pela falta de coragem também, se tivera só mais um minuto de vida faria tudo para realizá-los...

Um sonho morto há muito tempo, seu velório, seu enterro, agora somente me acompanha... Ele morreu primeiro...

Não posso reclamar, pois fui eu o seu executor o seu assassino, seu algoz, seu verdugo... Matei-o a sangue frio e sem dó, e agora eu pago o preço... Essa foi a minha sentença...

Estou indo a um lugar onde é proibido sonhar, vou-me decerto, mas quem me dera se eu pudesse retornar...

Um poeta acaba de morrer, porém, outros irão nascer, mas também um dia irão pelo mesmo caminho que eu... [perecer]

O único que não morre é o verso, a poética viverá eternamente no coração e na mente daquela que sente o eterno toque da singeleza da beleza e da pureza que tem o versar...

Estão a fechar a tampa, a porta da minha existência, ficará um tanto escuro deveras, mas acabou e eu vou rumo ao desconhecido...

 

[Mas meu versos serão eternos enquanto no mundo houver poetas e sonhadores que fazem da poesia seu modo de vida, se eu pudesse faria tudo de novo, mudaria sim muitas coisas, mas meu fenecimento chegou e ao desconhecido eu vou...].

 

Por Leandro Yossef (03/05/2013)

 

 

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